A VIDA DETESTA COVARDES

Levanto da cama a pulso, na marra mesmo. Praticamente pegando fogo por causa da febre que não me deixou dormir, o corpo dói. Nem sei que horas são, mas o dia já está claro, embora sem a presença do sol. A garganta irritada dificulta a deglutição, beber ou comer algo é uma agonia. Ainda assim tomo dois goles de chá de folhas de louro, gengibre, limão e mel porque o médico garantiu o arrefecimento da infecção com essa receita.

É triste e emocionalmente doloroso não ter ninguém para me dar bom dia, um abraço, um sorriso. O apartamento espera ser varrido, a louça de ontem ainda clama por limpeza, preciso fazer o café da manhã, o apetite me foge, a respiração pede que eu me sente. A quem clamar? Inexiste, não há uma só pessoa, tudo depende exclusivamente de mim.

Preferiria correr das lágrimas, elas mostram minha fraqueza, mas elas são mais persistentes que eu. Chorando ou não, preparo qualquer coisa para comer, a necessidade exige, depois eu lambo as feridas. Abaixo do poder de Deus é eu ou eu, doam as pernas, respirar seja difícil, a cabeça lateje, tenho que fazer tudo sozinho esteja ou não doente e febril.

Lá fora chove, chuva com o vento assobiando, no interior do apê o frio desafia o agasalho, até andar de um lado para o outro causa sofrimento. O corpo suplica por repouso, afinal de contas dormi tão pouco, porém sentar não vai despertar a magia de arrumar tudo, nada se faz sem as mãos humanas. Enquanto meu coração palpita acelerado vou pensando nas mulheres que outrora me amaram, e foram tantas! Contudo, chegaram e passaram, nenhuma ficou.

Ainda tenho o almoço por fazer e me vejo pensando se conseguirei vencer derrotar o dia. Sim, lamento e grito minha angústia porque não sou de ferro, qualquer um faria o mesmo. Se eu lograr alcançar o fim do dia cumprindo as tarefas principais será maravilhoso. Aquele antitérmico e analgésico junto com o descongestionante podem auxiliar nesse intuito, mas nada substitui a presença calorosa de alguém, claro não pensando nela somente como uma ajudante no cotidiano, e sim em tê-la ao meu lado caminhando comigo. Para quem já passou dos oitenta anos isso pode ser apenas utopia. Ah, deixa, vou fazer das tripas coração, seguir em frente, viver enquanto posso, a vida detesta covardes.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/07/2024
Código do texto: T8106857
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