CAÇADA DE AVOANTES

Estávamos em Tibau, época de veraneio e Tean sempre ia com a gente. Fazia os mandados, comprava grude, ia na padaria, onde precisasse.
Soubemos que havia um pombeiro de avoetes próximo à Umarizal. É assim que estas aves são chamadas aqui no nordeste.
Inventei de ir lá caçar. Imaginem quem eu levei?. TEAN. Saimos cedinho ainda de madrugada. Havia avoetes demais. Matamos muitas. Mais de duzentas. À tardinha resolvemos voltar. Muitas avoetes já começavam a cheirar mal. Era preciso salgá-las, mas como eram muitas, não dava tempo. Precisávamos voltar antes de anoitecer. Tive uma idéia: Comprei bastante sal e mandei TEAN ir salgando as avoetes enquanto eu dirigia. Tean disse:
- Cê tá doido, como é que vou salgar essas avoetes sem tratar? Respondi-lhe:
- Vá arrancando as cabeças e colocando um pouco de sal em cada uma, assim e fiz uma vez para ensinar.
- Tean, ou a gente faz isso ou elas apodrecem daqui para Tibau, completei.
Eu dirigia e TEAN salgava. Quando eu olhava pra tráz ele salgava. Ou fazia que salgava. Chegamos em Tibau quase 9 horas da noite. Quando abri a porta da mala sentí o cheiro "ruim", característico de aves em inicio de putrefação. Tiramos as avoetes do carro, Estavam todas estragadas.
Eu as juntava na mala do carro, sentindo o mau cheiro e via que TEAN não fizera o serviço.
Eu esbravejei:
- Rapaz deixe de ser irresponsável, eu pedi pra você salgar as avoetes e você não salgou! Ele respondeu:
- Eu salguei, 'omi'.
- Mas como? se todas as avoetes estão com as cabeças.?
Só havia uma salgada, justamente a que arranquei a cabeça e salguei para ensinar. E foi somente esta que prestou para ser consumida. A minha indignação foi caçar tanto e tão longe e ter que jogar mais de duzentas avoentes no lixo.
Nunca mais esqueci a presepada que Tean me pregou. Hoje ele reside em Roraima. Que Deus o guarde por lá.