Alma penada
Alma penada
Cardoso I.
Antônio olhou-se no espelho mais uma vez, na tentativa de entender o que estava acontecendo.
- Não tenho sombra! Gritou em voz alta, coçando os poucos fios de cabelo que lhe restará na cabeça.
Ficou apavorado do porque nao ter sombra, já que o espelho deveria refletir tudo.
Algo estava errado, pensava!
Na tentativa torpe de entender, procurou outros espelhos e mirava-se fixo na frente de todos.
E nada, simplismente não tinha sombra.
Todas as tentativas de se ver refletido falharam.
Nenhum vulto, nem mesmo um pequeno reflexo.
O que será que tinha acontecido? Pensava enquanto coçava a cabeça.
Só lembrava que havia dormido e, ao acordar sentiu-se estranho, estava exatamente na antiga casa de infância.
Correu ao ponto de ir se ver no espelho e tamanho foi o choque ao não ver seu próprio reflexo, nem mesmo a sombra.
De repente, veio uma Luz:
- E se eu voltar em casa, na minha verdadeira casa? talvez lá tenha respostas.
E saiu andando pela rua, enquanto tudo parecia normal. Exceto que, alguns cachorros rosnavam sem parar em sua direção e, os gatos nas janelas
dos apartamentos arrepiavam-se todos.
Fora isso, as pessoas continuavam indiferetes, como todos os dias. Se quer davam um bom dia, um olhar, um cumprimento.
Algumas quadras depois, estava em casa.
Notou que algumas pessoas saiam e entravam, uns chorando, outros se abraçando.
Alguns eram conhecidos, uns vizinhos antigos e outros amigos de infância que não via a algum tempo.
Cumprimentou-os de longe, antes que fossem embora em seus carros, mas foi ignorado, se quer deram um tchau.
Na pressa, correu para dentro de casa e estranhou a cena que viu.
A casa estava toda decorada com flores e ornamentos, cadeiras e um enorme caixão bem no centro.
A esposa e os filhos estavam bem próximos, choravam inconformaveis.
- que brincadeira é essa na minha casa? Falou em alto tom
Sem respostas, foi então que se aproximou do caixão e olhou.
Que susto teve! O defunto era ele.
Enquanto esperneava para dizer a todos que não morreu, que estava ali, que estava presente naquele lugar, um anjo de assas negras entrou pela porta da frente e veio busca-lo.
Se quer teve tempo de gritar, foi interrompido pelo anjo que lhe disse:
Sinto muito meu senhor, hora de fazer a passagem. Afinal de contas, terra não é mais lugar de alma penada.
E desapareceram para sempre em uma forte luz laranja, como aquela cor produzida pelo fogo.