O Preço de Poupar

Eu costumava contar o dinheiro na minha juventude. O dinheiro de cada mês era dividido rigorosamente para que eu pudesse viver com dignidade. Eu separava um tanto para o aluguel; outro tanto para as contas; algo para o mercado; um pouco eu guardava; e o resto, quase nada, sobrava para mim.

Nunca tive o hábito de consumir. As minhas poucas roupas duravam anos depois que eu parei de crescer, meus itens pessoais viravam relíquias depois de décadas de uso, viajava pouco, e minha despensa era sempre humilde. Consumindo pouco, especializei-me em poupar.

Conversei certa vez com uma senhora, já desconhecida, em um café, que já não me lembro o nome, em uma cidade, que também não sei mais onde fica. Ela me disse uma certa frase que se fixou na minha cabeça, o ensinamento consistia em um ditado: “quem guarda, tem”. Acho que poucas frases foram tão úteis para mim, segui-la com disciplina.

Formei-me em uma boa faculdade de Direito e arrumei um emprego. Não posso dizer que fui o melhor no que fiz, mas de longe não era o pior, então prosperei. Os hábitos continuaram, guardava, e comecei a ter, como a senhora havia ensinado. O trabalho começou a exigir mais de mim, mas o retorno aumentava, então fiquei feliz.

Guardei por um tempo. Consegui comprar uma boa casa; um carro simples e mobílias úteis, nada demais. Casei-me e tive um filho, o que foi demais. Os gastos aumentaram, então tive que guardar. Consegui obter certo reconhecimento; meu trabalho era procurado, e minha família me admirava.

As coisas foram passando e um dia eu já era rico, tudo estava bem. Sempre tinha um ou outro problema. Meu filho era um fanfarrão; minha mulher brigava comigo; a casa exigia reparo; o carro exigia reparo; a mobília exigia reparo. Isso me ocupava, porém fazia parte.

Passaram-se os anos, poucas coisas mudaram. Surgiram rugas, meu cabelo caiu, fiquei mais gordo e um dia, sem que meu sucesso pudesse impedir o caso, minha mãe faleceu. Sempre me senti contente por ter dado orgulho a ela, e ela feliz por ter sido bem-sucedida no papel de mãe. Até então não tinha visto a morte tão de perto.

O luto passou, se é que chegou. Continuei trabalhando, isso ajuda. Mas a ideia da morte ainda não tinha saído da minha cabeça. Pode parecer ingênuo, mas foi só quando mais velho que descobri que vida tinha fim. E que diferença isso faz...

Foram mais de sessenta anos de sucesso, uma vida dura, mas de superação. Guardei e construí o suficiente para o meu filho viver bem, mas para isso tive que viver pouco. O pouco que me sobrava na juventude não é menor que o pouco que me valeu na vida adulta.

Agora estou acamado, pois os médicos descobriram um câncer já avançado em minha pele. Uma marca que sempre considerei de nascença agora está me matando, da mesma forma que meu hábito de guardar me matou anos atrás. Hoje sinto pena... pelo menos isso. Maldita velha, inocente assassina, morrerei sem nunca ter vivido.