Encontro com o tempo
(CONTO)
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Era uma tarde quente de verão, e eu caminhava pela rua onde cresci. O sol brilhava alto no céu, e a brisa morna trazia um cheiro nostálgico de infância. Conforme eu seguia pelo caminho, algo extraordinário começou a acontecer.
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À frente, no parquinho onde costumava brincar, vi um garoto de uns oito anos, magro, de olhos curiosos e um sorriso inocente. Era eu, na minha infância. Aproximei-me, o coração batendo acelerado.
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— Oi — disse ele, sem parar de balançar no balanço. — Você parece familiar.
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— Eu sou você — respondi, com um sorriso. — Do futuro.
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Seus olhos se arregalaram de surpresa, mas não de medo. Ele pulou do balanço e correu até mim.
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— Como é ser adulto? — perguntou, curioso.
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Eu me agachei para ficar à sua altura.
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— É uma aventura, com muitos desafios e alegrias. Você vai crescer, aprender muito e conhecer pessoas incríveis.
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Continuamos a caminhar juntos, até que, em uma esquina, vi um adolescente com sua mochila nas costas, passando apressadamente na direção de um ônibus. Era eu, aos quatorze anos, começando a trilhar o caminho para a vida adulta. Nessa idade, comecei a trabalhar, o que me tornou um adolescente cheio de responsabilidades. Minha mãe me esperava ansiosa, pois não havia como entrar em contato com facilidade, e não se recebia notícias o dia todo como é agora.
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— Ei — chamou ele, levantando o olhar. — Quem é esse garoto?
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— Ele é você — respondi, gesticulando para o menino ao meu lado. — E eu sou você no futuro.
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O adolescente franziu a testa, confuso, mas curioso.
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— O que devo saber sobre o futuro?
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— Não desista. A vida vai te apresentar dificuldades, mas cada uma delas vai te ensinar algo valioso. E sempre lembre-se das suas raízes, da solidariedade das pessoas ao seu redor.
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Caminhamos juntos, agora em trio, e mais adiante avistamos um jovem adulto, de uns vinte e poucos anos, com um olhar sonhador e esperançoso, sentado em um banco de praça, lendo um livro.
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— Você de novo? — disse ele, levantando os olhos do livro. — E quem são esses?
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— São você — disse, rindo. — E eu sou você, mais velho.
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Ele balançou a cabeça, incrédulo, mas sorriu.
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— O que posso esperar?
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— Sucesso, fracassos, mas, acima de tudo, crescimento. Você vai encontrar seu caminho, e cada passo vai te levar aonde precisa estar.
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Continuamos andando, compartilhando histórias e lembranças, até que chegamos a um jardim onde um homem idoso estava sentado em um banco, com um garoto ao seu lado. O menino era meu neto, Théo.
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— Vô, quem são essas pessoas? — perguntou Théo, segurando a mão do homem idoso.
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— São eu mesmo — respondeu o velho, com um sorriso sereno. — Em diferentes fases da vida.
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— E quem é você? — perguntou o garoto de oito anos.
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— Eu sou seu futuro — disse o homem idoso, com os olhos brilhando de sabedoria e amor. — E este é seu neto, Théo.
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Sentamos no banco, compartilhando nossas histórias, esperanças e sonhos. O tempo parecia ter parado, e ali, naquele momento, percebi a beleza de cada fase da vida e como cada uma delas contribuía para a pessoa que eu havia me tornado.
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Era um encontro com o tempo, um encontro comigo mesmo, e um lembrete de que, não importa a idade, sempre há algo a aprender, a compartilhar e a amar.
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MMXXIV