Diamante Verdadeiro
Ela nasceu no ano de 1940 em uma família de classe média alta. Seu pai era um empresário que sabia aproveitar as oportunidades e fez uma pequena fortuna, sua mãe, deslumbrada, fazia tudo para frequentar na alta sociedade.
Desde cedo sentiu que era diferente. Não gostava das brincadeiras que suas amigas propunham. Tinha fascinação pela terra, pelas rochas e pedras. Gostava de observar o céu nas noites mais escuras e contar estrelas. Quando aprendeu a ler procurava por livros que falavam de geologia ou astronomia. Mesmo sendo bem jovem aprendia muito sobre estes assuntos. Seus pais achavam que ela não era muito normal, talvez sua inteligência sobressaísse à de outras crianças. Saía-se bem na escola e fazia perguntas que surpreendia as professoras. Quando fez dez anos seu pai perguntou o que queria ganhar e ela pediu uma luneta para olhar as estrelas. Mesmo surpreso atendeu o pedido.
Aos quinze anos ganhou uma linda festa e um anel com um belo brilhante. Ficava observando aquela pedra e pensando que um dia iria garimpar um grande diamante. Pensava que um diamante era uma pedra que sofreu tanta pressão que se purificou, ficou sábia e aprendeu a se defender enquanto o grafite apenas ficou em sua zona de conforto.
Por essa época um herdeiro rico, doze anos mais velho, começou a cortejá-la. Ela se fazia de desentendida, mas os pais faziam muito gosto. Sonhava mesmo em cursar geologia, sua grande paixão. Com tantas pesquisas que fazia sobre o assunto não teria nenhuma dificuldade. Mas seus pais tinham outros planos pra ela, poderia cursar algo mais adequado a uma mulher, geologia jamais. Era coisa de homens. Ela batia o pé, mas os pais a proibiram até de falar no assunto. Encurralada ela aceitou namorar com seu pretendente. Queria se livrar das repressão dos pais. Saberia tirar proveito da paixão do futuro marido e ele faria as vontades dela. No dia do noivado ganhou um anel com um brilhante ainda maior que o outro. Ela se encantou. Aos dezoito anos casou-se. Muito depressa percebeu que saiu das garras de pais e caiu nas mãos de um marido que além de repressor era ciumento.
Agora ela não podia nem sair e procurar por suas pedras e rochas, fazer suas pesquisas e descobertas. Não ficava bem à jovem esposa ficar por aí catando pedras. Precisava sim se preocupar com as coisas do lar ou com futilidades que seu marido julgava que convinha a uma boa esposa. Com alma rebelde ela batia de frente com ele e queria entender porque não podia estudar ou fazer o que gostava. Os pais e ele cobravam dela um filho que não vinha. Ela se sentia pressionada por todos os lados, como o diamante que um dia se torna forte, belo, valioso e se liberta. Ela não queria ser um grafite, queria ser diamante e toda a pressão a estava transformando. Recusava-se a ser um esposa obediente, insatisfeita e deprimida como muitas que conhecia.
A cada dia sentia que estava mais triste e insatisfeita. Seu marido achava-se no direito de sair com outras mulheres e ela achava que era uma situação inaceitável. E um dia quando cobrava dele a postura de homem casado ele disse:
—Quem é você pra me cobrar o que quer que seja? Você é uma mulher insubordinada, pensa que pode fazer o que quer, cobra porque não a deixo estudar. Isto é postura de uma mulher casada? Em quase dez anos você não prestou nem pra me dar um filho.
—Se não sirvo pra você, eu quero me separar. Quero o desquite. — disse altiva.
—Eu entendi bem? Você quer me deixar? Não vou aceitar nunca. Você é a mulher que eu amo e que escolhi pra esposa. Além do mais não vou dividir meus bens com você.
—Se é por causa dos bens, não se preocupe. Não quero nada de você. Só quero que me dê uma casa pra eu morar e uma pensão enquanto estiver estudando. Depois que eu puder me sustentar não quero mais nada. Vou levar só o que é meu.
—Estudar? Você insiste nesta insanidade? Geologia é um curso pra homens.
—É um curso pra quem quiser fazer.
Pouco depois a situação ficou insustentável, resolveram se separar. Ela foi em busca de seus sonhos. Livre das garras do pai e do marido, foi estudar. Sentia-se feliz.
Ingressou na faculdade de geologia, em sua turma tinham apenas duas mulheres. Os colegas e professores olhavam com desconfiança. Apaixonada pelo curso, nem ligava e se saía muito bem superando a maioria dos preconceituosos colegas.
Ao formar foi batalhar um emprego e conseguiu trabalhar na área de pesquisas se sentindo realizada. Mais tarde tornou-se professora na faculdade onde se formou e se sentia pessoa mais feliz do mundo. Conheceu o amor verdadeiro. Um homem que partilhava de seus gostos e profissão, que a respeitava e valorizava.
Olhando seus brilhantes percebeu que o diamante que sonhava garimpar era ela. Depois de tantas pressões, repressões e lutas, tornou-se um diamante verdadeiro e raro que irradiava por onde passava sua luz de mulher forte e verdadeira. Descobriu que seu lugar era e sempre será onde quiser estar.