SETE VIDAS
No interior de Altos, em meio às colinas que se estendiam até onde a vista alcançava, ficava o Sítio Mirador, lar dos sete irmãos: Flora, Floriano, Florina, Florizeu, Frutáceo, Frutina e Frutônio. Cada um deles tinha uma ligação especial com a terra e com as plantas que floresciam generosamente naquelas terras férteis.
Era ao pé de um antigo pé de manga, cuja sombra se estendia como um manto acolhedor nas tardes quentes de verão, que os irmãos se reuniam para compartilhar histórias e memórias olfativas e saborosas que permeavam suas vidas.
Flora, a mais velha e sábia dos irmãos, possuía um dom único para cultivar as mais belas flores do sítio. Seu jardim era um verdadeiro paraíso perfumado, onde rosas vermelhas exalavam um aroma doce e envolvente, e lírios brancos brilhavam como estrelas na escuridão da noite.
Floriano, o segundo irmão, era o guardião dos pomares de frutas que se estendiam além do horizonte. Sob sua orientação, laranjeiras carregadas de frutos suculentos e mangueiras repletas de mangas maduras prosperavam, alimentando não apenas os corpos, mas também as almas dos que ali habitavam.
Florina, a terceira irmã, era conhecida por suas habilidades culinárias e pela capacidade de transformar simples ingredientes em verdadeiras iguarias. Seu aroma favorito era o das maçãs recém-colhidas, cujo perfume adocicado impregnava a cozinha e despertava memórias de tempos mais simples e felizes.
Florizeu, o quarto irmão, era um poeta por natureza, cujas palavras fluíam como o rio que serpenteava pelo sítio. Ele encontrava inspiração nas flores silvestres que pontilhavam os campos e nos frutos selvagens que cresciam à sombra das árvores centenárias.
Frutáceo e Frutina, os irmãos gêmeos, compartilhavam uma conexão profunda com a terra e com os ciclos da natureza. Enquanto Frutáceo se dedicava ao cultivo das hortaliças e verduras que sustentavam a família, Frutina colhia ervas medicinais e plantas aromáticas para criar remédios e unguentos que curavam os males do corpo e da alma.
Frutônio, o caçula da família, era um estudioso das ervas medicinais e das propriedades curativas das plantas. Ele dedicava seus dias a explorar os segredos da natureza, colhendo cuidadosamente as ervas mais raras e poderosas que cresciam nos recantos escondidos do sítio.
Em uma tarde de verão, sob a copa generosa do pé de manga, os sete irmãos se reuniram para celebrar a colheita abundante e compartilhar as lembranças que os ligavam àquelas terras ancestrais. O aroma adocicado das mangas maduras pairava no ar, misturando-se com o perfume das flores e o cheiro reconfortante da terra molhada pela chuva.
Enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e rubros, os irmãos se abraçaram em silêncio, sabendo que a verdadeira riqueza não estava nos frutos que colhiam ou nas flores que cultivavam, mas na união e no amor que os mantinham juntos, como os ramos de uma árvore frondosa e resistente.
E assim, no Sítio Mirador, onde as memórias olfativas e saborosas se entrelaçavam como os fios de uma tapeçaria tecida com carinho e cuidado, os sete irmãos encontraram a essência da vida e a beleza efêmera que reside nas pequenas coisas, nas flores e frutos que são protagonistas de uma história simples e profunda, como a própria natureza que os envolvia.