O CEMITÉRIO DOS SONHOS

A distribuidora Fattal começou como um pequeno depósito de materiais de limpeza. Nos idos dos anos 2000 funcionou na estrada da igreja da matriz em uma pequena doca alugada ao preço de 200 reais. Isso na época era uma pequena "fortuna". Mas Euzébio conseguia pagar de acordo com as vendas de descartáveis e produtos de limpeza. A organização, o transporte e a distribuição eram feitas pelo próprio dono em um pequeno veículo de passeio que atualmente já saiu de linha. As grandes vendas contínuas proporcionaram um crescimento exponencial daquele pequeno negócio. Ao longo de 5 anos o esforçado Euzébio já estava com 19 docas alugadas. Aquele estoque enorme já "exigia" um galpão maior. Foi aí que apareceu um sócio que tinha ganhado uma grande soma de dinheiro em cassinos e jogos de azar. Leninho sugeriu a Euzébio o aluguel de um galpão de 1000 metros quadrados. Houve a mudança e daí começaram as aquisições de caminhões e vans que distribuíram os produtos por todo o interior. Após esse crescimento os dois sócios planejaram a abertura de filiais que pudessem atender a demanda crescente de produtos de limpeza e descartáveis. A empresa já estava no seu décimo aniversário e tinha exatamente 20 filiais que prosperavam a cada dia. O grupo já contava com 350 funcionários. Na empresa havia uma pequena parte de funcionários que estavam no grupo desde a sua fundação. O mais antigo chamava-se Ambrósio. Um senhor da cor parda que ao longo desses dez anos se dedicou fielmente a empresa, mas sem o devido reconhecimento. Ele ganhava um pífio salário, mas quando se encontrava com um dos sócios da empresa, então recebia enormes elogios. O discurso era sempre o mesmo. Você é importante para o grupo, veste a camisa da empresa, e um grande "patrimônio" da empresa. Ambrósio tinha mulher e 5 filhos e ainda pagava aluguel. Ele tinha um sonho de ter uma casa própria e tinha esperança de ascender de cargo para ganhar mais dinheiro. Os seus filhos já estavam na adolescência e precisavam de incentivos financeiros para cursar uma faculdade privada. De vez em quando ia até o escritório do patrão para sugerir uma promoção a um cargo melhor, mas só recebia "tapa nas costas". Um certo dia todos sentiram falta do antigo funcionário. Ele nunca faltara ao trabalho nesses longos anos. No outro dia também contactaram com a esposa dele. "Surtou", disse a esposa de Ambrósio. As palavras ditas pelo antigo funcionário eram desconexas. Mas o que mais se ouviu nesses discursos foi a frase "cemitério dos sonhos". O tempo passou e Ambrósio não conquistou os seus sonhos. Ele apenas ajudou na conquista dos sonhos dos seus patrões. Agora estava enfermo e sem condições de manter as despesas. Depois de uma semana a Magnólia do RH contactou com ele para dizer: - Sr Ambrósio esses dias de ausência vão lhe custar 10 por cento do seu salário. Ah, povo sem coração, disse o desanimado Ambrósio antes de infartar na cama pobre do seu casebre arruinado.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 30/06/2024
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