Ambulante

Amanhecia na grande metropoles.

Dona Mercedes começava a exaustiva rotina de vendedora ambulante.

Em são Paulo, cheiros dos mais variados se misturavam entre a agitação da multidão: pasteis gordurosos, café passado na hora, carnes e até mesmo sopas eram vendidos ali, no meio da rua.

Não era mulher de botar arrego, mas por necessidades tinha que aguentar firme, não queria que os filhos passassem necessidades. No finzinho da tarde, de volta pra casa, podia sentir as dores de quem passou a manhã inteira vendendo docinhos.

Finalmente podia olhar na janela e dizer para quem passasse:

- Olha eu venci mais um dia com a graça de Deus.

Na mesa com os filhos, contava cada centavo que fez, daria para a troca de gás, comprar o material das crianças e caso sobrasse, comprar o feijão para o almoço de domingo. Mas nem todos os dias eram bons, havia os dias molhados, quando era preciso sair com capa e guarda-chuva para poder vender.

Quando chovia, a metrópoles era silenciosa, os ambulantes assim como dona Mercedes aos poucos iam surgindo. O bonde chegava e com ele, uma multidão enlouquecida descia e saia na direção dos vendedores. Embora soubesse que a chuva não era algo ruim, dona Mercedes se preocupava com o que a chuva poderia trazer. Haviam as latas de lixos transbordantes no meio da rua que atraia cachorros sarnentos e insetos variados.

No fim do dia, após a chuva passar, a ambulante pegava um ônibus de volta pra casa. Um vagão superlotado que volta e meia fazia paradas repentinas para poder receber mais passageiros que assim como ela, voltavam para casa.

Somente quando alguns chegavam a seus destinos, a mulher podia sentar em um dos bancos e dormia pensando nos filhos que deixara em casa.

Ivonoel cardoso
Enviado por Ivonoel cardoso em 29/06/2024
Reeditado em 30/06/2024
Código do texto: T8096365
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