SEM FINAL FELIZ

Os irmãos Ednardo e Egberto, cearenses da região do Crato, desembarcaram com a família na antiga capital federal, no final dos anos cinquenta. O patriarca viera convidado para exercer função burocrática para seu irmão, deputado federal de direita, típico representante da oligarquia do interior do Ceará.

Interessante notar a abissal diferença de comportamento entre os irmãos, com pouca diferença de idade, e tratados da mesma forma, enquanto Egberto, o mais jovem e também mais largadão, vestia qualquer coisa e ainda valorizava como poucos sua origem matuta, e seu forte sotaque regional, e como seus pais gostava de conversar com a vizinhança, e contava com orgulho histórias peculiares do tempo passado na fazenda da família, lá no tão pouco conhecido e distante sertão do Cariri, um paraíso de águas, em meio a áreas do bioma caatinga, imortalizado naquela canção que declarava: “só deixo meu Cariri no último pau-de-arara”.

Ednardo, por outro lado, rapidamente incorporou a maneira carioca de ser, claro que com certo requinte, e em pouco tempo de moradia na cidade, aprendeu a chiar como qualquer carioca da gema. Ele achava que assim, seria um indivíduo mais respeitado, só esqueceram de lhe avisar, que com sua baixa estatura e cabeça avantajada de base plana, podia à distância ser logo identificado como migrante.

Enquanto Egberto conseguia se integrar ao grupo da rua, sem usar nenhum tipo de subterfúgio, Ednardo começava a demonstrar sua necessidade de aparecer, escolhendo uma forma peculiar de se manter em evidência.

Sempre que houvesse um grupo reunido, ele usava sua estranha estratégia de inserção, bajulava a pessoa mais influente do grupo, assim tentando maior aproximação dos escolhidos. Era capaz de endossar pontos de vista de algum selecionado, e poucos minutos depois, alterava completamente tudo que afirmara anteriormente.

Mas, apenas isso não bastava para inflar seu ego, aproveitava outras situações para ridicularizar componentes de menor expressão no grupo. Outra estratégia empregada para tornar o ambiente pesado, passava por criar tensão entre colegas. Mais tarde, no meio laboral, esse tipo de comportamento ajudou, e como em sua ascensão dentro da hierarquia funcional.

Impressiona como a questão ética realmente não faz parte do conceito de quem almeja subir na carreira, e não tinha escrúpulos de usar atalhos imorais, para atingir seu objeto. Talvez, tenha sido essa a razão de tanta bajulação com chefes imediatos, e que talvez essa nefasta atitude acabasse se perpetuando em outras instâncias do ambiente corporativo. Ednardo, logo passou a ser temido e odiado por muitos, que tiveram a infelicidade de contato direto com ele.

Basicamente, levava a cabo a reprodução daquela questão de opressor e oprimido, um efetivamente não sobrevive, sem a conivência do outro, em síntese, isso era a personificação do Ednardo.

Ele não se fazia de rogado, e mantinha essa estratégia de sobrevivência, tanto dentro, como fora do trabalho.

Quando seu irmão tentou intervir, por conta de um amigo acintosamente desrespeitado, reagiu bem a sua maneira, criando um clima em casa, que culminou com a internação de Egberto nessas clínicas de lavagem cerebral. Egberto saiu desse tratamento abobado, e essa foi a consequência do enfrentamento do irmão por uma única vez na vida.

Esse tipo de postura de Ednardo encontrou terreno fértil no ambiente laboral, onde se convive quase naturalmente com atitudes deploráveis, mas que para alguns, faz parte da estratégia do jogo de poder, jogo que se caracteriza muitas vezes por cartas marcadas, atividade que Ednardo logo passou a dominar como poucos.

E para alegria geral de seus companheiros de trabalho, finalmente chegou sua compulsória no trabalho, Ednardo daqui para frente, até poderia aprontar poucas e boas com colegas ou vizinhos, mas nunca mais com graves consequências, que para seu deleite, teve o prazer de promover e presenciar de perto suas consequências.

Companheiros de trabalho que surtaram, outros que não conseguiram promoção funcional e tantas outras confusões, que tinham na raiz pressões que sua participação direta e efetiva no processo.

Agora, sem ter como levar adiante suas maldades, Ednardo vaga a esmo, sem direção pelas movimentadas ruas do bairro onde reside, sabe lá em busca de que!

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 27/06/2024
Código do texto: T8095035
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