A UNIÃO FAZ A FORÇA
Todo mundo que procura tranquilidade, sabe que está na região serrana fluminense à cidade que desfruta da melhor qualidade de vida no estado. Para o público idoso, o único empecilho vem associado diretamente da natureza, com o período de inverno, quando a temperatura realmente despenca, o que incomoda muito esse público que já superou a barreira dos sessenta anos de vida.
Por outro lado, enquanto moradores da capital e de sua área metropolitana torram com termômetros que insistem em permanecer acima dos 40 graus, quem mora, por exemplo, em Teresópolis convive com pelo menos 10 graus a menos. Para quem já estudou um pouquinho a saúde dos idosos sabe que essa parcela da população sofre o processo de desidratação repentinamente, e com graves consequências.
A família dos M, pai Manuel, mãe Madalena e as três filhas Marina, Mariza e Marta residem no centro de Teresópolis e trabalham todos na padaria PANE D’ORO, uma das mais prestigiadas da cidade.
Até recentemente, apenas os cinco davam conta de tocar o negócio. Seu Manoel saía de casa ainda no frio escuro da madrugada, para preparar a primeira fornada do dia. Dona Madalena, chegava pontualmente às seis horas, para abrir as portas do estabelecimento, e invariavelmente recebia ajuda de algumas pessoas, que ansiosamente aguardavam para desfrutar da primeira refeição do dia.
Neste momento, seu Manuel já depositara pãezinhos e bisnagas nos compartimentos apropriados, para que as próprias pessoas escolhessem o que levariam para casa. Ele mesmo pesava, e cobrava o valor.
Enquanto isso, Dona Madalena começava a servir a média e o pão com manteiga quentinho, para o animado grupo de motoristas de coletivos, que faziam uma pequena pausa entre as viagens. O movimento naquele momento era intenso, não dava tempo sequer de trocar uma ideia, com essa turma, que também dispunha de pouco tempo de parada.
Só por volta das oito da manhã, que finalmente as três filhas começavam sua jornada de trabalho. Aí as coisas ficavam mais tranquilas, seu Manuel saía de trás do balcão e podia dar atenção à freguesia, muitas vezes sentava na mesma mesa e tomava mais um café junto a comerciantes conhecidos.
Era a hora de Dona Madalena sair de cena, e começar a preparar, bolos, doces e confeitos. Essa moda recente das pessoas degustarem o café da manhã em restaurantes e padarias, passou a exigir das três filhas mais agilidade, no preparo das mesas dada a variedade de possibilidades de pedidos, e assim dar conta da demanda, que só fazia crescer.
Enquanto isso seu Manoel, fazia papel de mero observador da movimentação no estabelecimento, enquanto dava atenção a um novo comerciante da vizinhança.
Ninguém se preocupava em preparar almoço, pois diariamente chegavam às quentinhas de um restaurante próximo, seu Manoel fazia uma espécie de escambo, trocando as cinco refeições por pães, doces e bolos da padaria.
O combinado na família era encerrar as atividades sempre às 18 horas, momento em que a vizinhança também fechava o expediente, e o Centro praticamente vivenciaria uma calmaria até o dia seguinte.
E assim, com essa tranquilidade típica do interior passavam os dias. Porém, um evento viria transformar essa pacata rotina diária.
Da noite para o dia, Marilena, a única irmã de Madalena apareceu esbaforida na padaria, acompanhada das duas filhas.
Moradoras de Caxias estavam todas muito assustadas, bandidos invadiram o restaurante da família, no centro da cidade. Os dois indivíduos entraram no ambiente anunciando o assalto e foram imediatamente repelidos a tiros, morrendo na hora. O marido e dois filhos não contavam que os meliantes estavam em cinco. Os três que dariam cobertura, ao ouvir os tiros irromperam o ambiente com submetralhadoras dispararam sem cessar, em seguida partiram.
Marilena e as filhas largaram tudo para trás e vieram procurar lugar seguro para ficar, enquanto a polícia faria investigação dos fatos. Devido aos constantes assaltos no restaurante da família, todos passaram a frequentar cursos de tiro, e com a facilidade na compra de armamentos e munição propiciada na gestão do capitão presidente, acharam que assim resolveriam os problemas com as próprias mãos. Deu no que deu!
Passado o susto inicial, e lembrando que a vida continua, logo Marilena queria, porque queria voltar à ativa, e claro, onde tinha muita experiência, a arte da culinária.
Ao lado da padaria, uma ex-lavanderia fechara as portas há pelo menos cinco anos, e o imóvel persistia fechado. Porque não juntarem as forças, e expandirem os negócios?
PANE D’ORO agora passaria a ser padaria e restaurante, ampliando seu espectro de público e o time de funcionários também ampliara seu contingente para oito, majoritariamente feminino.
Com a ampliação do estabelecimento e o horário também expandido, o movimento cresceu, e a família também estreitou laços de amizade, agora tudo podia ser melhor dividido, inclusive permitindo escalas de horário e até de folgas, coisa impensável, antes da união das famílias.
Teresópolis, na região serrana fluminense é considerada como a cidade que convive com o menor índice de violência, entre os municípios com mais de cem mil habitantes.
Foi num domingo, ao final da tarde, com a família toda reunida na sala da casa, envolvida com as tramas de um intrigante filme hindu, daqueles produzidos em Bollyood, que dois indivíduos chegaram armados, exigindo que todos deitassem no chão, enquanto recolhiam celulares e outros objetos de valor.
Todos obedeceram às ordens, e se mantiveram calmos, com a situação e os ânimos controlados, apenas um continuou armado, o outro elemento fazia a coleta dos objetos de interesse.
Tudo parecia transcorrer da maneira planejada pela dupla, agora tranquilos, na saída pediram que todos permanecessem deitados no chão, assim a perda seria apenas material.
Os meliantes não contaram com o imponderável, entre as oito pessoas presentes na sala, não uma, mas três fizeram curso de tiro, e ao final da operação o que se podia assistir, eram os dois corpos estendidos no chão, alvejados pelas costas, com perfurações na cabeça e na altura do coração.