Trabalhando duro
Quando Darryon chegou em casa naquela noite, a mãe ainda estava sentada na sala, assistindo um programa de perguntas e respostas na TV.
- Puxa, filho! Hoje você demorou, hein?
- Sexta-feira, né dona Joyce? - Foi a resposta brincalhona do rapaz. - A galera quer se ajeitar pras batalhas de rap no fim de semana...
Sentou-se ao lado da mãe no sofá. Joyce diminuiu o volume da televisão.
- Mas você tem passado do horário praticamente todo dia, - ponderou ela - não só nas sextas-feiras.
Darryon deu de ombros.
- Mas não foi a senhora mesma quem me disse pra arranjar um emprego e ajudar nas despesas da casa? As coisas não melhoraram? Deu até pra trocar a TV e estou economizando pra comprar um carro usado...
Joyce acariciou os cabelos crespos do filho e comentou com orgulho:
- Eu nunca ia imaginar que você ia fazer tanto sucesso cortando cabelo, Darryon... aliás, se tivesse imaginado, teria mandado você pra escola de barbeiros mais cedo!
- Caramba, mãe! - Fingiu protestar o rapaz. - Daqui a pouco eu vou achar que a senhora defende trabalho infantil...
- Nem pensar! - Riu Joyce. - Você já estava acabando o ensino médio quando foi trabalhar na barbearia do Sr. Foster. Mas vá tomar um banho que eu vou pôr o seu jantar...
Darryon coçou a cabeça.
- Ei, mãe, não precisa. Eu jantei com um pessoal do rap antes de vir pra cá.
- Pessoal do rap? - Indagou a mãe, desconfiada.
- Meus clientes! - Darryon ergueu-se do sofá e abriu os braços. - Tudo gente boa!
E antes que a mãe pudesse falar alguma coisa:
- Me espere aí que eu vou tomar banho e volto para assistir o resto do programa contigo!
Joyce ia fazer um comentário, mas o filho já havia saído da sala.
* * *
No dia seguinte, enquanto servia uma mesa e outra na lanchonete, Joyce comentou com uma colega, a garçonete Shamone, sobre o filho que se transformara em arrimo de família.
- Darryon deu muito certo trabalhando na barbearia, praticamente quitamos todas as dívidas...
- E que cara é essa? Não ficou satisfeita? - Questionou Shamone.
- É que não tem mais hora pra chegar em casa... parece que vem gente de longe cortar o cabelo com ele.
- Você devia estar contente - Shamone deu um tapinha nas costas da colega. - Ele é jovem, está fazendo o próprio nome... daqui a pouco abre uma barbearia só pra ele!
Joyce terminou de colocar um pedido na mesa de um cliente e respondeu à Shamone:
- Sabe que eu não tinha pensado nisso?
- Ainda é cedo - ponderou a outra garçonete. - Mas se ele continuar nesse ritmo, vai acontecer antes do que você pensa!
Joyce lembrou-se então das palavras do senhor Foster para o filho: "trabalhe duro e será recompensado!" Mas certamente, o velho não estava pensando em perder um dos seus melhores empregados, apenas porque este havia resolvido seguir a risco o conselho. Abanou a cabeça, como que para concentrar-se no trabalho, e apanhou um pedido na janelinha que dava para a cozinha da lanchonete. Ali, mesmo que trabalhasse triplicado, não havia a menor possibilidade de que fosse conquistar a própria independência. No máximo, acabaria com os pés inchados...