A má educação
Telma foi com raiva à diretoria e já chegou esbravejando:
-Por que me chamaram? Acham que não tenho o que fazer?
Uma mulher que lá estava explicou:
-Seu filho está batendo no meu filho! Além de bater nele, estimula os outros a fazer o mesmo e diz que ele rouba das mochilas dos colegas!
Tensa, a diretora tentava acalmar as duas mulheres que lançavam farpas pelos olhares. Telma protestou:
-Meu filho Júlio César é só uma criança! Crianças brigam mesmo! Hoje em dia ninguém pode receber um apelido que diz que é bullying!
Levou muito tempo para acalmar as mulheres e Telma voltou com seu filho, um rapaz grandalhão e gordo, para casa.
Tempos depois, a mãe do menino que dissera ter sido agredido por Júlio César retirou o filho da escola e, uma tarde, Telma, que trabalhava em casa como webdesigner, ouviu o filho chegar chorando. Foi ver o que era, ficando horrorizada ao vê-lo chegar com um olho roxo, o cabelo todo sujo de terra e as roupas amarrotadas.
-Meu filho querido, que houve?
-Um aluno novo, o Carlos, ele me bateu...deu um soco... uma rasteira... um chute... derrubou no chão... pisou na minha mão!
Indignada, Telma protestou:
-Que escola é essa que não protege os alunos? E os pais desse menino não sabem dar educação? Estão criando um monstro, um animal? Vamos amanhã à escola resolver isso! Ninguém bate em você!
No dia seguinte, Telma estava na diretoria e logo veio uma mulher pequena e que a olhou com ar de desafio. A mãe foi gritando:
-Seu filho bateu no meu filho!
-Calma, senhora. pediu a diretora.
-Calma, nada! Eu não pago mensalidade para uma escola nem mesmo proteger os alunos! E a senhora, vejo que não sabe dar educação! Meu filho está com medo de vir à escola apanhar! Seu filho é o resultado de uma má educação! Que tem a dizer? perguntou Telma, revoltada.
A outra mulher só respondeu:
-Meu filho apenas se defendeu, porque há tempos o seu precioso príncipe começou a mexer com ele, zoando e colocando apelidos porque ele é baixinho. Aliás, já contaram a meu filho que há um certo tempo um outro aluno saiu da escola porque seu filhinho tão educado, junto com outros, fazia bullying com ele. E, quando ao meu filho, o seu filho foi tentar bater nele para roubar o lanche dele, diante de outros alunos que ficaram apenas rindo e estimulando! Porém, meu filho Carlos faz karatê desde os cinco anos e conseguiu se defender!
Telma se enfureceu. Como a mulher podia dizer aquilo de seu precioso filho?
-Mas também ninguém pode fazer uma brincadeira que já se chama de bullying? Que culpa meu filho tem se o seu é baixinho?
Rindo, a mulher respondeu:
-Bem, estou vendo de quem é a culpa pelo fato do seu filho ser mal-educado, querer bater nos outros, roubar os lanches e achar que vai ficar por isso mesmo!
-Senhoras, parem, por favor. a diretora estava aflita.
Enfurecida, Telma saiu da diretoria, reclamando que os pais não estavam mais sabendo educar os filhos e que as escolas não eram capazes de proteger os alunos.