O tormento de Violeta
Violeta havia acabado de escovar os dentes após o almoço e resolveu que faria logo a lição de casa já que a professora passara muitas tarefas. Sentou à escrivaninha do seu quarto, tirou os cadernos da mochila e decidiu que começaria pelas atividades de Comunicação e Expressão. Escutou a mãe lavando a louça e achou ótimo, pois detestava que a mãe e o pai a ajudassem na tarefa de casa. Era sempre um tormento. Abriu o caderno e começou a responder às perguntas.
Estava indo tudo muito bem até que a menina ouviu:
-O que você está fazendo, Violeta?
A menina se virou, alarmada. Ao ver a mãe, sentiu-se nervosa mas respondeu com toda a calma:
-Estou fazendo o dever de casa. É fácil e posso fazer sem ajuda.
-Deixe eu ver se eu posso ajudar, minha filha.
Violeta retrucou firmemente:
-A tarefa é fácil, mãe! Eu sei fazer!
A mãe não desistiu, pegou o caderno e reclamou:
-Mas deixe eu ver se eu posso ajudar, Violeta! Por que você não quer que eu ajude? Que menina, mal-agradecida, mal-educada e grossa!
Com raiva e de braços cruzados, Violeta viu a mãe olhar a tarefa e dizer:
-Violeta, quando você vai melhorar sua letra, meu Deus? E olha essa resposta: "Eu gosto de maçã". Que resposta pobre, simples demais! Apague essa resposta e escreva: "A maçã é gostosa e faz bem à saúde porque tem muitas vitaminas."
-Não, mãe! Eu já respondi! Que droga!
A mãe ergueu a mão, ameaçadora. A menina se encolheu, pois sabia que, se a mãe quisesse, poderia começar a lhe dar chineladas na cara e na cabeça. Ela ainda lembrava do dia em que a mãe, por achar que ela não queria tomar banho, puxara seu cabelo com toda a força e a surrara sem dó na frente das visitas.
-Se você disser "droga" de novo eu lhe dou uma surra! Apague e responda como eu disse!
Sabendo que não tinha saída, Violeta apagou e respondeu a todas as perguntas conforme a mãe foi ditando as respostas. Violeta ficou com mais raiva quando a mãe ditou a última resposta:
-Não diga apenas "as rosas são bonitas." Diga "as rosas são bonitas, perfumadas e têm muitas pétalas., que fica melhor.
Ao acabar, Violeta foi fazer a tarefa de Ciências. A mãe ficou vigiando e perguntou:
-Só vai fazer isso?
-Vou fazer o que a professora mandou.
A mãe apontou os quesitos restantes e ordenou:
-Pois faça esses também, assim você faz tudo.
Violeta protestou:
-Mas mãe, a professora não mandou fazer esses!
-Faça que fica mais completo!
Por fim, hora da tarefa de Matemática. Para Violeta, era sempre a pior hora. Ela tinha dificuldades com números e a mãe era implacável e sempre perdia a paciência.
Como Violeta previu, foi horrível. A mãe reclamou:
-Resolve logo essas contas, menina! Meu Deus, como você é lenta! Não consegue raciocinar? Deixe de ser tapada, minha nossa!
Depois de muito tempo, a menina conseguiu fazer as contas. A mãe pegou o livro de atividades de matemática e mandou:
-Faça essas tarefas também!
-Não, mãe! Essas são tarefas para fazer em classe! Mãe, a professora disse para só fazermos as tarefas de casa!
-Faça, Violeta! Assim, você já terá feito!
A menina ainda enfrentou a mãe:
-Mãe, você não vê que está escrito que são tarefas de classe? A professora disse que era para fazermos em classe! Vou fazer amanhã em classe!
A mãe pegou o chinelo e, sem hesitar, bateu com toda a força no rosto de Violeta. A força foi tanta que os óculos da menina caíram no chão. Ela começou a chorar e a mãe sentenciou:
-Da próxima vez, você vai no cinto para aprender a ter respeito! O que lhe falta é surra! Pare de chorar ou vai apanhar com mais força! Faça as tarefas!
Violeta pegou os óculos e fez as tarefas. A mãe disse:
-Vá enxugar os pratos.
-Mas é hora do meu desenho favorito.
-Não, você vai ficar sem televisão para aprender a ter respeito e também porque está muito fraca em Matemática! Só vai voltar a ver desenho quando melhorar.
Depois de enxugar os pratos, Violeta foi ler suas revistas em quadrinhos e a mãe falou:
-Vá olhar sua irmã mais nova, você é responsável por ela! Como mais velha, você tem que tomar conta dela! Acha que sou sua empregada, sua mal-agradecida egoísta?
Violeta se encheu de raiva. Com apenas oito anos, ela queria ser criança, não tomar conta de uma menina de cinco. E, ao ir dormir, ela só conseguia pensar que, no dia seguinte, a professora reclamaria porque ela fizera as tarefas que tinham sido separadas para fazer em classe e, ao olhar as respostas de Comunicação e Expressão, diria:
-Violeta, você realmente deu essas respostas? Parecem respostas de alguém com mais idade, não de uma criança de oito anos.
A menina se enroscou como uma bola, perguntando se seu tormento um dia terminaria.
Antes de dormir, Violeta escutou a mãe dizer ao pai o que tinha acontecido, dizendo como tinha sido trabalhoso convencê-la a dar as respostas que ela tinha ditado.
O pai, que era professor universitário e, quando queria ajudar a filha com as tarefas, também ditava respostas e já tinha lhe dado murros nas costas nas vezes que ela fizera cara feia por não gostar de como ele ajudava com as tarefas e também numa vez em que achara que ela tinha feito arte, reclamou:
-Tinha que dar mesmo surra nessa menina. A gente tem que ficar o tempo todo em cima, ajudando em tudo, porque ela é toda abestalhada. Com oito anos, não sabe nem pentear o cabelo. A Gardênia, que tem apenas cinco, sabe mais das coisas. E a gente vai ajudar e ela acha ruim? É para apanhar muito mesmo para ver se aprende. Se não fosse tão abestalhada, a gente não tinha que viver em cima dela.
Violeta só pensava que não podia esperar a hora de crescer para ir viver bem longe deles.