LUGAR CERTO, PESSOA ERRADA
Estava tudo bem até aquela hora, o dia estava no seu compasso normal, tinha atendido vários clientes, feito boas vendas e muitos orçamentos. Prestes a fechar o dia e ir embora para casa, entrou na loja mais um cliente, um senhor de uns setenta e cindo anos mais ou menos e começou a xingar o Dagoberto, chamou ele de tudo que podia, palavrões impublicáveis aqui, um escândalo na loja onde o rapaz trabalhava.
Ninguém, nem o Dagoberto sabia o que estava acontecendo e o homem dizia frases desconexas, sobre a filha, sobre um caso amoroso, coisa e tal. Mas o Dagoberto era homem sério, respeitava as clientes da loja e tinha verdadeira paixão por sua esposa, carinhosamente chamada por ele de "docinho de leite".
Então o homem foi se acalmando, parece que se ligou de onde estava. Alguém tinha chamado a polícia, que ainda não havia chegado, o senhor observou a loja com mais atenção e reparou que estava talvez no lugar errado e xingando a pessoa errada, pediu desculpas e o bondoso e atencioso Dagoberto o desculpou sem mágoas, mesmo com seu colega de balcão dizendo para ele fazer um boletim de ocorrência pelos xingamentos, não fez.
Ato contínuo, o senhor lembrou-se de que precisava de tintas, massa corrida e outros materiais porque estava reformando a casa, tinha uma grande lista em seu bolso, Dagoberto se propôs a atender o senhor que, constrangido, fez uma compra daquelas e nem pediu desconto, além do mais pagou à vista, o que ajudou na comissão do vendedor. Combinaram que o material seria entregue em sua casa no dia seguinte, sem custo algum.
Por fim o senhor foi embora, a presença da polícia foi devidamente cancelada e o Dagoberto ficou muito feliz por ter batido sua meta. Sem contar que o senhor virou freguês do Dagoberto, tinha umas casas de aluguel e mantinha algumas amantes, então sempre tinha uma reforminha a fazer, aqui e ali.
Ah, me lembrei. A filha do "seu" Gervásio, esse era o nome do velhinho, era amante do dono da loja e ninguém sabia...