Casamento
_ Fernando... ah... como sinto sua falta... 60 anos não são 60 meses!
_ Fernando, como te amo, agora, aqui, com todo meu ser...
_ Agora, no nosso quarto, onde tantas conversas e sentimentos compartilhamos, estou deitada na nossa cama, ah! Como ela é grande sem você; aliás, nesta noite chuvosa, sem você, tenho reparado em coisas aparentemente insignificantes.
_ Nossa!!! Como esta cama é grande, como este quarto é silencioso. Até tenho a impressão que posso gritar enlouquecidamente agora mesmo que não serei notada.
_ Estou lembrando agora de como fomos felizes, e tivemos uma vida plena juntos.
_ Nossos filhos estão preocupados comigo...dizem que devo morar com eles, pois lá terei a presença de nossos netos e tudo... mas, ah!
Como poderei abandonar-te? Sinto e revivo-te em mim em cada parte desta casa e em cada objeto.
O azul-escuro das paredes de nosso quarto... ah... como fica bonito à noite, você demorou um dia e meio para pintá-las, lembra?
_ Eu meu lembro, e o azul é minha cor predileta...
_ No dia em que você partiu, eu não pensei em nada, não podia pensar em nada, não tinha nada para pensar. Simplesmente olhava para seu gélido e imóvel rosto e observava absorta aquela quase imperceptível cicatriz abaixo de seu olho. Você teve-a em virtude de uma queda no banheiro do hotel gaúcho, onde tivemos nossa lua-de-mel. Foi há 58 anos; mas para mim...não se passaram 24 horas.
Que loucura tudo isso, né?
_ Os três cobertores que estou usando agora neste dia gelado, não são capazes de protegerem-me deste frio, mas ao pensar em você, sinto tua aconchegante companhia aquecendo-me agradavelmente mais e mais.
_ Ah! antes que me esqueça: Boa noite meu AMOR.
De sua esposa, Fernanda.