SEGUNDAS INTENÇÕES JUNINAS

Conhecendo, desde menino, a Festa Junina da Vila Vicentina e seus quitutes, Rafael almejava ser voluntário no evento. Tinha uma crença pueril, de que as pessoas que ajudavam voluntariamente na festa, tinham acesso livre aos quitutes vendidos. Essa ideia turbinava sua vontade em fazer parte.

Naquele ano se cadastrou e foi convocado a ser voluntário na festa. Mesmo convidado para a festinha de aniversário de seu primo, que fora marcado para a mesma noite, não hesitou em escolher o voluntariado.

Na tarde daquele sábado, ajudou nos preparativos e à noite, enquanto sua família foi para a festinha do primo, Rafael foi para seu compromisso de segundas intenções. Alocado na barraca de Vaca Atolada, a cada prato que servia, lambia os beiços com a boca cheia d’água imaginando comê-los. A todo momento esperava uma brecha para praticar suas intenções secundárias. Mas era barrado em suas investidas, ora pelos pedidos constantes dos clientes, ora pelo olhar atento da supervisora Dona Luci.

Em determinado momento da festa, um colega seu, que também ali ajudava voluntariamente, comentou que iria comer um prato de vaca atolada. Um belo prato de grosso caldo de mandioca com generosos nacos de carne de vaca. Rafael na empolgação soltou: _Também quero! Vou pegar o meu! Mas veio a seguir um banho de água fria: _ Tem que comprar ficha sô!, disse o colega exibindo-a.

Murcho, sem dinheiro, entendeu que não comeria como imaginava. Seu entusiasmo junto com o cansaço foi se consumindo como a lenha da fogueira. Quase no fim da festa, seus familiares apareceram. Avistando-os saiu da barraca cansado e tristonho, querendo voltar para casa sem cumprir seu propósito.

Tia Marta, vinda do aniversário disse a Rafael que ele perdera a festinha, estava ótima, mas suspirosa, emendou que estava com a boca cheia d’água com o cheiro da pipoca e sem dinheiro. Ouvindo isso, não hesitou em entrar na barraca com suas credenciais de voluntário, e encher as mãos das pipocas quentinhas e passar à Tia Marta sem dor na consciência. Um menino espiou o delinque de Rafael que, cansado e frustrado voltou para casa sem ver o final da festa.

No dia seguinte, encontrando-se com o colega da barraca da vaca atolada, recebeu a seguinte notícia: _Ih bobo! foi você ir embora a festa raleou de gente e comemos e bebemos a vontade do que sobrou, e sobrou muito.

Amargou!

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 15/06/2024
Reeditado em 15/06/2024
Código do texto: T8086262
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