MAIS UM ANO VELHO TRISTE

Feliz ano novo. Era o que ele dizia para todos os poucos amigos quando pegou o telefone às 23:10 da última noite de dezembro daquele ano. Era triste. O ano ía embora. Mais um. Todos nas ruas, as famílias reunidas. Todos se desejando um esperançoso ano novo. Como fizeram há exatamente um ano atrás. Todos os anos iguais. Todos os dias iguais.

Para ele, o ano velho fora bom. Ganhara mais dinheiro, se formara na faculdade, perdera a namorada. O ano que vem será melhor ainda? Será! Ele tinha certeza que sim!

Faltavam alguns minutos para a zero hora. Ele olhou da janela do apartamento, quinze andares lá embiaxo. A avenida estava repleta. A praia mais ainda. Todos na contagem regressiva, todos esperando passar o velho ano triste e chegar o novo ano alegre.

Chegou. Uma explosão se fez no mundo. Abraços e beijos e champagne e festas. Comidas. desejos e esperanças. Enfim, mais um ano começava.

Ele foi para seu quarto. Ajoelhou ao pé da cama, iniciou uma oração. Pediu a Deus benção a todos os habitantes do mundo. Pediu a Deus paz, saúde, coragem, fé e felicidade. O resto ele corria a atrás. Não pediu dinheiro. Ele não iria ficar esperando Deus lhe dar. Havia no mundo muita gente precisando de dinheiro muito mais do que ele. Dinheiro ele próprio correria atrás.

De dentro de seu quarto, enquanto conversava em oração com o pai celestial, ouvia os gritos vazios de felicidade dos seres humanos lá fora. Depois de vinte minutos ele terminou a oração.

Ligou o cd, botou uma canção do Capital Inicial. “Sou passegeiro, que roda sem parar, eu rodo pelos subúrbos escuros, eu vejo estrelas caindo do céu...”. E em dois minutos já estava dormindo.

Depois de amanhã seria dia dois de janeiro do novo ano, e ele teria que trabalhar. Iria começar tudo de novo.

Antonio Fabiano Pereira
Enviado por Antonio Fabiano Pereira em 08/01/2008
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