Ciúmes do Gato
04.06.25
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Todo os dias pela manhã aparecia na janela. Deitava-se ao sol, espreguiçando-se languidamente, com seu corpo prensado na tela de proteção. Um gato cinza rajado, dois andares abaixo do meu piso em prédio vizinho.
O vi pela primeira vez da janela da cozinha. Chamei-o:
-Oii, bom diaa gatinho. Tudo bem com você? - falando com voz carinhosa.
Olhou fixamente pra acima com seus grandes olhos dourados, orelhas esticadas e atentas. Estático e curioso, encarava-me.
Segui tentando cativá-lo. Estático, a menos das orelhas, que se mexiam ao meu falar. Não me deu um fechar de olhos carinhoso, típico deles quando gostam de alguém. Ainda não o conquistara.
Os dias foram seguindo, eu tentando, ele pomposo e cheio de fleuma, me olhava desdenhoso, mas já começava a mexer seu rabo. Bom sinal!
Uma manhã, lhe dei um estalar de dedos. Olhou imediatamente para mim. Eu falei:
-Bom diaaa meu amiguinho! Tudo bem?
Fixando seu olhar em mim, abanou levemente sua cauda peluda, e finalmente me deu um fechar dos olhos, abaixando sua cabeça. Tornamo-nos amigos.
Fiquei feliz, agora tinha companhia no meu café da manhã. Dia a dia nossa amizade se consolidava, com ele fazendo gracinhas, como rolando sobre seu corpo folgadamente e olhando-me com os olhos semicerrados. Era o nosso programa pela manhã. Eu me deliciava com suas travessuras felinas.
Um dia acordei, e como de costume, fui vê-lo. Não estava. Havia um vaso com uma orquídea sem flor, com seu longo cabo, colocada bem no local em que ficava todas as manhãs. Impedia-o de vir à janela. Fiquei chateado, pois acredito que seu dono, ou dona, talvez por ciúmes, tenha feito isso para ele não vir ficar comigo. Espero que, quando a orquídea florescer, seu dono, ou dona, libere o local para continuarmos com nossos encontros matinais.
Fui agora ver se meu amiguinho estava lá. A planta, continua no seu lugar.
Sinto saudades !