O carrinho e a professora
O aniversário de Juninho seria no próximo final de semana. Para agradar o menino, sua mãe o levou à melhor loja de brinquedos da cidade. Ela era mãe e pai ao mesmo tempo, criando o pequeno sozinha. Trabalha duro para mantê-los com o básico, e sua franqueza com o filho ajuda bastante nos momentos de dificuldade.
Assim que entraram na loja, os olhos do menino se arregalaram; ele mexia a cabeça como robô humanoide procurando seu alvo. Não era sempre que tinha o privilégio de visitar uma loja entupida de brinquedos.
— Juninho, pode escolher seu presente, mas lembre-se que tenho pouco dinheiro. Está bem? — A mãe explicou.
— Tudo certo, mãe. Eu entendo. — Respondeu ele, enquanto sua imaginação borbulhava.
Juninho saltitava entre os corredores e parou repentinamente na seção de carrinhos de controle remoto. Modelos de diversos tamanhos; os grandes eram caríssimos. Ele deu uma olhadela rápida, mas logo se voltou para os pequenos porque sabia das condições. Ela sempre o ensinou a economizar, comprar o mais acessível se tornou hábito.
Ficou todo entusiasmado ao ver a caixa do Maverick V8 amarelo. Era bonito, pequeno e estiloso. O controle remoto tinha alcance de 300 metros. Exatamente o que queria, mas surgiu uma dúvida.
— Mãe, o irmão do Joel tem um Maverick V8 igual a esse. Ele nos contou que gosta de dar cavalo-de-pau e disse também que o motor tem muitos cavalos — explicou, balançando a cabeça.
— Mãe, qual é relação do cavalo com o carro? — Perguntou com olhar especulativo.
— O irmão do Joel é maluco. Não tem juízo algum. — Respondeu ela.
— A senhora não respondeu minha pergunta? — Indagou colocando a mão no queixo.
— Esquece isso filho, qual carrinho você gostou? — O garoto tinha uma curiosidade acima da média. Ela tinha dificuldades em responder suas perguntas.
— Mãe, você não sabe a resposta?
— Que atrevimento é este, Juninho? Escolhe o seu presente, vai… — Ela respondeu com as mãos na cintura.
— É, a senhora não sabe mesmo!
— Juninho, você está sendo ingrato. Eu não entendo nada sobre carros, cavalo-de-pau ou motor. — Ficou impaciente.
— Às vezes, seu comportamento é irritante. É isso que você aprende na escola?
Ele percebeu que devia mudar de assunto, senão iria dançar no chinelo ao chegar em casa.
— Não, mãe. Na escola ensinam Matemática, Português, Ciência e Artes. Mas quando a professora de Português está triste, ela fica falando do fim de seu casamento. O marido a trocou por outra mulher. Na última aula até chorou. Coitadinha, mãe. Deu até dó de ver. — Ele respondeu segurando a caixa do carrinho.
— Que absurdo. Os alunos estão lá para estudar, não para ouvir sobre a vida particular de ninguém. Vou conversar com a diretora amanhã. Ah! Se vou! — Ela começou a empurrá-lo na direção do caixa. Ficou pasma com a história da professora.
— Mãe!
— O que foi agora, Juninho?
— A diretora é a outra mulher!