Cego não casa
Não sei quem é o autor desse pensamento, nem tão pouco quem o difundiu, mas no município onde nasci e morei boa parte de minha vida, algumas pessoas têm a plena convicção de que cego não casa.
O ano era 2007, e numa das visitas que fiz a vovó, quando a mesma se encontrava acamada, lá estava uma de suas irmãs, que quis saber "quantas moças meu pai ainda tinha para casar".
Ele respondeu que faltavam duas: eu e a outra mais nova. Porém, rapidamente titia o repreendeu dizendo:
- Diga que tem só uma, meu filho! Porque essa aqui não enxerga, então ela não precisa casar. Não é verdade, querida?
Limitei-me a confirmar com um gesto de cabeça, aquelas tão sábias palavras. Papai ainda tentou argumentar, falando que as pessoas com deficiência não são diferentes das demais, contudo, ela discordou do que foi dito, achou aquela conversa muito moderna para seu gosto e rumou para a cozinha.
O tempo passou e agora em 2024, mais precisamente no mês de março, mamãe foi a um evento lá na região e encontrou uma velha conhecida, que perguntou notícias minhas. Quando ela disse que eu estava bem, trabalhando e que havia casado, a mulher, surpresa, exclamou:
- Casou? Mas ela está enxergando melhor?