WALDECI, RETIRANTE NORDESTINO E”POBRE DE DIREITA”

Waldeci, o valente retirante nordestino, deu início à sua brilhante jornada como modesto montador na Volkswagen, alimentando sonhos de ascender ao topo da hierarquia.

Enquanto os colegas de trabalho se envolviam em greves intensas, Waldeci os menosprezava, confiante de que seu trabalho árduo e leal seria recompensado, sem precisar se envolver em questões ideológicas. Afinal, acreditava que o suor do esforço individual valia mais do que qualquer revolução proletária.

Mesmo rejeitando os ideais grevistas, não hesitava em colher os frutos dos aumentos salariais conquistados por eles. Afinal, dinheiro é dinheiro, independente de ideologias, não é mesmo?

Com a chegada de Fernando Collor, Waldeci se viu apoiando entusiasticamente o "caçador de marajás", desprezando o "sapo barbudo" e analfabeto. Uma escolha óbvia para um visionário como ele!

Apesar de perder parte de suas economias no caos do confisco, Waldeci permanecia leal à empresa, ignorando as conveniências duvidosas da alta cúpula. Com FHC privatizando setores estratégicos, Waldeci se sentia em casa, aplaudindo cada medida pró-mercado como se fossem hinos ao capitalismo. E quando a montadora precisou de apoio, ele estava lá, pronto para ajudar, já ocupando a posição de "chefe de sessão".

A ascensão de Lula ao poder representava um desafio assustador para Waldeci. Um nordestino e conterrâneo no comando do país? Inaceitável! Certamente, tudo o que conquistara estaria em perigo sob esse governo.

Embora sua vida tenha melhorado consideravelmente com os recordes de vendas de automóveis durante o governo de Lula o “Sapo Barbudo”, Waldeci insistia em atribuir seus sucessos unicamente ao próprio esforço, ignorando os benefícios das políticas governamentais. Afinal, admitir que o Estado pode ter um papel positivo na vida das pessoas era impensável para ele.

Com Dilma, finalmente veio a tão sonhada promoção a gerente na montadora, trazendo consigo uma enxurrada de parentes distantes em busca de favores. Enquanto tentava manter as aparências de grande líder da família, Waldeci se contentava com a gratidão formal do departamento de RH, mesmo com uma renda reduzida após a aposentadoria.

Envolvido nas reviravoltas políticas do país, Waldeci se tornou um defensor fervoroso do impeachment e da volta da ditadura militar, acreditando que o Brasil só prosperou sob o regime autoritário.

A vida de Waldeci tomou um rumo inesperado com a pandemia, quando sua negação da gravidade da Covid-19 o levou a contrair a doença, resultando na perda de sua esposa. Um elevado preço a pagar por seguir cegamente as palavras do seu presidente.

Bolsonarista e terraplanista fanático, preso em suas crenças e ilusões, Waldeci acabou apoiando movimentos da extrema direita em uma tentativa desesperada de manter seu ídolo na presidência após a derrota para o “Sapo Barbudo”. Sua revolta culminou em sua participação no lamentável episódio de tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.

Agora, aos 70 anos, preso e réu, é seu filho, beneficiado pelo PROUNI, quem terá a missão de defendê-lo.

Uma história trágica e reveladora sobre os milhões de Waldecis que habitam o Brasil.

Jeferson Santos Albrecht
Enviado por Jeferson Santos Albrecht em 23/05/2024
Reeditado em 23/05/2024
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