História de Pescador
O sol ainda nem havia nascido quando o velho pescador, João, já estava de pé preparando sua canoa. Com mãos experientes, ele organizava sua rede de pesca, anzóis, uma quartinha de água e uma panela de barro com farinha e rolos de peixe ao molho, tudo cuidadosamente arrumado. Colocou um grande chapéu de palha na cabeça, vestiu sua camisa simples de botão e ergueu as calças de tecido barato até o meio da canela. Guardou uma bolsinha de plástico com fumo no bolso da camisa e sua faca de 12 polegadas, além de uma faca menor para cortar o fumo, em uma bolsa de couro que lhe acompanhava sempre em suas pescarias.
Enquanto preparava a canoa, João olhou para o horizonte ainda escuro e suspirou. Pensou em sua filha, Ana, que estava doente há semanas. O dinheiro das pescas mal dava para os remédios, e ele sentia o peso da responsabilidade a cada dia. Com um último ajuste na rede, ele empurrou a canoa para a água, sentindo a madeira envelhecida e desgastada pelos anos de uso.
Remava devagar, observando as águas calmas do rio. Os remos de madeira cortavam a água com um som suave, enquanto ele buscava com o olhar os cardumes de peixes que se aproximavam da superfície, atraídos pelos insetos e pequenas frutas que caíam das árvores frutíferas ao redor do rio, lá no seio da mata. De vez em quando, ele olhava ao redor e via o mergulhão descendo como um raio, mergulhando com precisão cirúrgica para capturar um tucunaré dourado. A ave subia rapidamente, levando o peixe para seu ninho em um ipê amarelo nas margens do rio. Ele ficava admirado com a habilidade do pássaro, uma dança natural que sempre lhe encantava, mas hoje sua mente estava em outro lugar.
Finalmente, o humilde pescador sentiu a movimentação do cardume a alguns metros de sua canoa. Com o olhar concentrado, ele se levantou lentamente, equilibrando-se com maestria no barco. A rede de pesca estava pronta em suas mãos, um pedaço preso na boca, os braços abertos segurando a malha. Com um movimento rápido e preciso, ele lançou a rede, que se abriu como um leque sobre o cardume de peixes desavisados. A malha pontilhada com pequenos pedaços de chumbo desceu rapidamente, aprisionando os peixes sem dar-lhes chance de fuga.
Ele amarrou o cordão guia da rede na proa do barco e sentou-se. Abriu a bolsa de fumo e, com a pequena faca, começou a cortar o fumo até que estivesse bem picadinho. Com destreza, abriu a seda com os dedos polegar e indicador da mão esquerda, enquanto com a outra mão colocava o fumo picado. Enrolou a seda com prática, fechou as extremidades e fez um cigarro. Pegou do bolso da camisa um isqueiro de percussão, segurando o eslabão e raspando com a peça de aço, gerando faíscas que atingiram o pano carbonizado. Soprou suavemente até formar uma chama e acendeu o cigarro.
Sentado no banco do barco, ficou ali matutando e fumando por uns 20 minutos, observando o rio e o movimento da natureza ao seu redor. Então, pegou o cordão da tarrafa e começou a puxar lentamente. Os peixes vinham em direção à embarcação, presos na rede. Tilápias, tucunarés e piaus enchiam o barco, e ele deu um suspiro de satisfação. Olhou para o céu, agradecido, e beijou o crucifixo que estava pendurado no pescoço por uma fina volta de prata.
Quando estava prestes a retornar, ouviu um barulho diferente. Uma canoa vinha em sua direção, remada com pressa. Era seu amigo Pedro, que trazia um semblante preocupado.
— João, corre! — gritou Pedro. — O rio está subindo rápido, uma tempestade se aproxima!
João olhou ao redor e viu as nuvens escuras se aproximando rapidamente. Remando de volta à praia do rio com todas as suas forças, o velho pescador lutava contra a correnteza que começava a ficar mais forte. Ao chegar na margem, sua esposa, Maria, estava lá, esperando ansiosamente.
— Graças a Deus, você voltou! — disse ela, ajudando-o a desengatar a tarrafa e a colher os peixes, colocando-os em pequenos baldes. — Vamos rápido antes que a tempestade nos pegue!
Enquanto recolhiam os peixes e se preparavam para ir embora, João sentiu uma mistura de alívio e preocupação. A luta contra a natureza havia sido vencida por hoje, mas ele sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir — cuidar de Ana e garantir que a família tivesse um futuro seguro.
E assim terminava mais um dia de trabalho para o velho pescador, com o coração cheio de gratidão pelos peixes apanhados e pela segurança de sua família, mas também com a mente inquieta, pensando no que o próximo dia traria.