Eles, os poemas
Ela, que já me olhava há muito tempo, sem que eu o percebesse, retirou-me dos devaneios com a pergunta:
- Tia Lú, no que é que você tá pensando?
- Estou pensando em escrever um poema, Júlia - respondi, entre a surpresa e a necessidade de explicar coisas às crianças...
- E escrever um poema é bom ou ruim?
- É bom, Júlia... Escrever um poema é bom!
- E, então, Tia Lú... se é bom, por que você tá triste?!?
- Estou chamando o poema, que é bom, Júlia, por isso... pra ele não deixar mais eu ficar triste!
- Ah, então, o poema é alegre?
- Nem todos os poemas são alegres... alguns são tristes, mas, quando eles vem, ajudam o coração da gente porque são bonitos...
Frustrava-me com minha incapacidade de explicar poesia a uma criança, quando Júlia saltou da cadeira e correu a uma mesa próxima, arrancando a rosa mais bonita de um arranjo que a ornamentava... Rosa na mão, ela voltou.
- Toma a rosa, Tia Lú, ela é bonita... vai ajudar o poema que 'cê tá chamando...!
E correu a ir brincar com outras crianças.