Fantasmas sem Lar

Era uma casa moderna, imponente e reluzente, construída com linhas minimalistas, vidros espelhados e tecnologia de última geração. Localizada em um bairro de classe alta da cidade maravilhosa, a residência dos Castro chamava a atenção pela inovação e pelo contraste com as construções clássicas ao redor. Era um verdadeiro exemplo do futuro.

Quando a família Castro Braga mudou-se para lá, não imaginava que a modernidade da casa esconderia um segredo ancestral. Durante a construção, ninguém sabia, mas o terreno fora palco de antigas histórias, impregnadas de memórias de três séculos atrás. E foi assim que os fantasmas dos antigos moradores, uma família do século XVIII, o patriarca Dom Sebastião Monteiro de Almeida, seus três filhos homens: Dom Afonso Monteiro de Almeida, Dom Vicente Monteiro de Almeida, Dom Lourenço Monteiro de Almeida e suas quatro filhas: Dona Constança Almeida, Dona Mariana de Almeida, Dona Isabel de Almeida, Dona Beatriz de Almeida, se viram transportados para um cenário completamente novo e alienígena.

Essa família de fantasmas estava acostumada a viver em seu casarão na cidade do Rio de Janeiro, repleta de corredores escuros, lareiras crepitantes e móveis de madeira maciça. De repente, encontravam-se em uma casa com paredes brancas, dispositivos eletrônicos por todos os lados e sem um único lustre de cristal.

Na primeira noite dos Castros, os fantasmas fizeram seu movimento habitual: portas se abriram sozinhas, passos ecoaram pelos corredores e sombras se moveram pelas paredes. Mas em vez de gritos de terror, ouviram risadas.

"Olha, pai! O holograma de Halloween está ligado!", riu Mateus Castro, o filho mais novo dos Castros.

Dom Sebastião Monteiro, ofendido, tentou erguer sua voz fantasmagórica, mas o sistema de som da casa abafou qualquer tentativa de assustar os moradores com uma música ambiente relaxante.

"Essas pessoas não têm respeito", disse a matriarca dos fantasmas, Dona Mariana de Almeida, frustrada. "Ninguém mais teme um bom susto hoje em dia?"

Os Castros continuaram ignorando as tentativas dos fantasmas. Beatriz Almeida tentou flutuar pela sala de estar, coberta com um véu translúcido, mas foi confundida com uma falha no sistema de projeção holográfica. Dom Afonso Monteiro, em um último esforço, apareceu com uma armadura enferrujada e uma espada espectral, mas foi confundido com um bug em um jogo de realidade aumentada.

Os dias se transformaram em semanas e as semanas em meses. A família fantasmagórica, desanimada, percebeu que seus esforços eram em vão. Ninguém mais se assustava, ninguém mais se importava. Os Castros estavam tão imersos em suas tecnologias e comodidades modernas que os fantasmas eram apenas distrações triviais.

Um dia, Dom Sebastião Monteiro tomou uma decisão drástica. "Isso não é vida... ou morte. Vamos embora daqui." Assim, os fantasmas deixaram a casa dos Castros, resignados a vagar pelas ruas de uma cidade que não reconheciam mais.

Sem lar, tornaram-se fantasmas mendigos, invisíveis tanto em corpo quanto em espírito. Passavam pelas pessoas, que os atravessavam sem notar. Suas presenças eram imperceptíveis em meio ao burburinho urbano. Noites e mais noites se passaram, e os antigos moradores do século XVIII se viram completamente desamparados e ignorados.

Então, um dia, enquanto vagavam pelo parque da cidade, encontraram um velho teatro abandonado. Decidiram se estabelecer ali. Pelo menos, naquele ambiente decadente, havia resquícios de uma época que podiam entender. Com o tempo, começaram a encenar suas histórias para si mesmos, em um palco improvisado, relembrando os dias em que eram temidos e respeitados.

Mas naquele velho teatro morava um mendigo há anos e, ouvindo aquele barulho estranho, acordou e gritou: "É melhor vocês procurarem outro lugar para morar, aqui só cabe" um fantasma velho sem teto, eu, o Barão Felipe Fernandes de Mello

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 20/05/2024
Código do texto: T8067347
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