Um homem e suas quatro mulheres
Gilberto Carvalho Pereira - Fortaleza, CE, 18 de maio 2024
Haroldo, desde adolescente, nutria uma vontade louca de se casar. Ainda tinha apenas 13 anos de idade, mas cortejava garotas a partir dos dez anos. Bastava ter cabelos loiros e compridos, que falava para a sua patota do bairro, que iria se casar com essa beleza de garota. Ele, na verdade, não importava se ela realmente era bonita ou feia. Já Satisfazia ter cabelos loiros. Era fascinação! Sua mãe tinha belos cabelos loiros, mas não era bonita. Entretanto, ele observava como ela era admirada pelos homens da vizinhança. Isso não o fazia feliz, ao contrário, morria de raiva.
Belo dia, uma nova família veio morar na sua rua. Um pai, uma mãe e três lindas garotas loiras e de cabelos compridos. Eram trigêmeas, com idade de 14 anos. A mãe também era formosa, o pai, um sujeito mal caráter, cara sempre fechada, um daqueles que batia em mulher. Era vendedor representante de uma indústria farmacêutica. Passava 15 dias viajando pelo interior, quando retornava parecia ter ficado mais brabo.
O menino vivia enfurnado na casa das loirinhas. Estudavam na mesma escola, se davam muito bem. No retorno para casa, parava sempre alguns minutos, para concluir o bate-papo. A mãe gostava dessa amizade, eram quatro crianças inocentes, nada de mau poderia acontecer às suas filhas. O pai não sabia desses fortuitos encontros em sua casa, pois só acontecia quando estava ausente. Enquanto brincavam no quarto delas, a mãe poderia assistir seus capítulos matinais da novela, pela TV. Também cozinhava o almoço do dia. A casa era sempre arrumada no período da tarde.
Algumas vezes, ela ia até o quarto das garotas, encontrava a porta sempre fechada. Era só bater que uma delas vinha abrir. A mãe colocava a cabeça para dentro do quarto, olhava de um lado e de outro, tudo normal, para ela. Fechava a porta e voltava para a novela da TV, correndo! A cada capítulos ficava mais excitada, era a vida que ela gostaria de levar. Um casal vivia um verdadeiro amor, não aquilo que ela passava quando o marido reaparecia de suas viagens, pelo interior do Estado.
O tempo ia passando, vidinha mansa que mãe, as trigêmeas e o garoto vinham experimentando. Era satisfatória para todos. O péssimo era quando do retorno do marido. A casa parecia encolher, o homem estava sendo demais para aquele ambiente. O garoto já não ficava apenas alguns minutos depois das aulas, agora era sempre convidado para almoçar. A mãe esmerava na comida, as meninas estranhavam aquele chamego com o colega, mas não importavam. Elas também estavam comendo bem, até vinham engordando um pouco, fato não percebido pela mãe. Nem o pai notara a mudança na silhueta das filhas, ele pouco olhava para elas, não tinha tempo, trabalhava muito, pensava com os seus botões.
A mulher vinha ganhando peso, ultimamente, e isso o preocupava. Ela sempre fora magrinha, quase sem quadris, e isso o assustava, fazia tempo que entre eles não havia sexo. Essa preocupação o levou a prestar mais a atenção nela, a desconfiança entrou naquela casa, a pergunta a fazer, era:
─ Ela está me traindo? Será que ficou sabendo de Guilhermina, minha namorada de Serra Grande? Será que estaria grávida? Um turbilhão de indagações orbitava sua mente.
Chegou outra semana de viagem para ele, que acabou não procurando saber se o que o atormentava era verdade. A semana foi difícil, pela primeira vez depois de alguns anos, retornou a se interessar pela esposa. Uma mulher nos seus 45 anos, ainda bonita, pode ter despertado sentimentos a um outro homem, que se aproveitou da sua ausência, para seduzi-la e tê-la em seus braços. Essa resposta o deixava inquieto, não poderia perguntar por telefone, seria constrangedor e deselegante.
Chegou o dia do seu retorno. Antes de ir para a rodoviária, apanhar o ônibus das 22 horas, rumo à sua casa, resolveu falar com Guilhermina, sua namorada, seu caso de viagem, era assim que ele a considerava. Estava na hora de terminar aquele romance sem futuro, voltar a ter um lar perfeito, sem subterfúgio, cuidar de sua esposa e das três filhas. Voltaria a ser um homem honrado e decente.
A namorada do sertão o recebeu bastante desconfiada. Já até imaginava o que iria acontecer, pelo comportamento dele durante as duas últimas quinzenas.
Chegou em casa encontrou a mulher e as trigêmeas na sala, todas as quatro grávidas, esperando por ele. Não houve diálogo, só uma meia volta volver. Foi para um hotel, depois acertaria tudo, o casamento estava desfeito.