A VARANDA MÁGICA

Após bater três vezes à porta do quarto do seu filho, Clara ouviu sua voz de dentro do quarto responder:

- Pode abrir.

Ao abrir a porta viu que Gabriel, seu filho, um rapaz de dezessete anos, baixara os fones do ouvido para ouvi-la, mas ainda mantinha os olhos na tela do computador e as mãos habilidosas de gamer continuavam atuando agilmente.

- Oi filho, eu nem vi quando você chegou da escola...

O silêncio perdurou no quarto, então Clara prosseguiu:

- Gabriel, o que você acha de hoje assistirmos aqueles filmes de dinossauro que você gosta?

Neste momento, Gabriel levantou o olhar para a mãe e deu um sorriso de lado:

- Mãe... eu não gosto mais de dinossauros.

- Como não? Quando foi isso?

- Ai mãe... – Gabriel sorriu novamente e balançou a cabeça. – Então, hoje não vai dar para assistirmos eu vou sair com uns amigos, vamos ao cinema.

- Nossa, eu adoro cinema, vou com vocês então.

- Mãe! – Chamou Gabriel virando as duas palmas das mãos para cima como se perguntasse a sua mãe “Como assim”?

- Hummm, ah você não quer que eu vá... tá bom... – Respondeu Clara com um semblante triste.

- Bem, mãe, não é que eu não queira que você vá... é que só teria você de mãe e você se sentiria deslocada.

- Obviamente... você está certo, filho. Então, tá bom, vou deixar você aí fazendo... o que você está fazendo mesmo?

- São coisas de jogo mãe, você não entenderia...

- Tá... – respondeu Clara se perguntando se fazia tanto tempo assim que ele implorara para que jogassem juntos. Quando já estava se retirando do quarto ouviu a voz do filho chamando-a:

- Mãe, mãe!

- Oi filho. – Clara voltou-se rapidamente, pensando que por um momento o filho largaria o computador para conversarem.

- A porta... você esqueceu...

- Ah sim... – Enquanto fechava a porta calmamente Clara tentava se lembrar quando isso havia acontecido, quando fora a primeira vez em que Gabriel se trancara naquele quarto, quando assistiram ao filme de dinossauro pela última vez, quando ele deixou de querer a sua companhia.

Tristemente se encaminhou para a varanda onde há poucos anos atrás vários brinquedos ficavam jogados, deixando sempre aquela varanda com ar bagunçado. Lembrou-se que a bagunça e o barulho eram uma das coisas que mais lhe irritavam na infância de Gabriel e agora eram as coisas que mais sentia falta.

Deixou-se ficar em uma cadeira quando de repente alguém pegou a sua mão:

- Mãe, mãe, mãe, vamos brincar? Vamos, vamos, vamos?

Boquiaberta Clara ficou observando aquela criança ao seu lado, era seu filho, Gabriel com apenas quatro anos. A pequenina mão insistentemente a puxou e a convidou a se levantar para correr atrás dele, a sua risada gostosa ecoou novamente pela casa, seus cabelos lisos balançavam em um doce movimento enquanto ele não parava ao seu redor. Perplexa Clara sorria e não conseguia parar de olhar, para aquelas bochechinhas gordas e avermelhadas, aquele sorriso dente de leite e aqueles olhos, porque aqueles olhos estavam olhando diretamente para ela e implorando a sua atenção e seu carinho, coisa que ela estava derramando livremente, seu tempo estava totalmente livre para aquele menininho, assim como a sua atenção e o seu amor.

Estava ainda sentada na cadeira quando ouviu uma voz mais grave atrás de si chamá-la:

- Mãe... você está chorando? –Tirou os olhos da tela do celular que reproduzia o vídeo de Gabriel com apenas quatro anos e olhou para seu filho, ele se tornara um rapaz muito bonito, era maior do que ela agora e estava realmente com a fisionomia preocupada porque encontrara sua mãe em prantos.

- Ah filho... não é nada...

- Como assim não é nada... você está chorando.

- É que... de repente... me deu tanta saudade.

- De quê?

- De você, meu filho, de você...

Clara virou o celular para Gabriel e ele pegou o celular de sua mão e começou a olhar os vídeos de quando era criança, de repente, ele disfarçadamente limpou uma lágrima que escapuliu pelo cantinho do olho.

- Mãe... eu também sinto saudades de ser pequeno... tem como voltar?

Os dois riram e se abraçaram.

- Mãe, vou cancelar com os meus amigos, hoje nós vamos ver aquele filme de dinossauros.

- Mas você disse que não gosta mais.

- É mentira, eu gosto sim.