Bolinhos de chuva

Bolinhos de chuva (José Carlos de Bom Sucesso)

A tarde ia-se findando no horizonte. O sol se punha tão rapidamente que mais parecia correr para o tão sonhado descanso, porque o dia foi longo e lhe custou muita energia para aquecer as pessoas, pois o mês era final de junho e a sensação térmica parecia que estava congelando as pessoas.

Lá longe, no pequeno casebre, à beira da estrada rural do Povoado do Lambari, a anciã Dona Joana, senhora de mais de setenta anos de idade. Aposentada na lida rural, mas não quis morar na cidade. Ela dizia que nasceu, cresceu, criou a família e ali vivia com o Marido, o Senhor Oscar, também aposentado e trabalhador rural, no pequeno pedaço de terra, que foi ganho dos patrões e estes lhes deram mais ou menos dois hectares de terra em gratidão pelos anos trabalhados ali na fazenda.

Após juntar as galinhas junto ao galinheiro, colocar o jantar para os dois cães e o casal de gatos, conferir se não haviam formigas perambulando entre o jardim repleto de rosas, verificar, também, se a galinha que chocava no ninho improvisado na bananeira estava lá, quase sendo mãe pela segunda vez, Dona Joana entra para dentro da vivenda e lá encontra seu antigo amor, o marido, já sentado na cadeira junto à mesa de jantar. No fogão à lenha, brasas ainda queimam lentamente e vão aquecendo a panela de ferro, de certo tamanho e nela está a sopa de arroz, com cebolinha de folha, batatinha, couve, tomatinho de horta, pele de porco torrada, chuchu, macarrão, repolho e feijão. O cheiro exalava pela cozinha, pois o tempero caseiro dela foi até premiado há cinco anos no festival de comidas mineiras na cidade.

Então, ela diz ao marido:

- Bem! Vou tomar aquele banho bem rapidinho para que possamos jantar. Vamos ouvir músicas pelo rádio, mas hoje não assistiremos à televisão, porque haverá palestra sobre saúde feita pela nossa filha, que mora na cidade grande e ela será entrevistada. Fiquemos muito felizes, pois ela é professora na faculdade de medicina da capital. É a nossa filha, aquela que lhe ajudava a buscar as vacas, que me ajudava na plantação, que estudava muito e nos ensinou a ler e escrever. É muito orgulho para nós, seus pais.

- Certo! Minha amada e admirável esposa. Enquanto você se banha, eu vou pegar o vasilhame e vou amassar aquele bolinho de chuva. Desta vez será a minha receita, aquela que eu sempre fazia para você, quando ainda éramos namorados. Entendeu?

Com o sorriso nos lábios, bem contente, ela dizia para que ele não usasse muito açúcar, pois a filha lhe havia dito que não é bom comer muito açúcar. Ele mais uma vez, disse:

- É somente hoje! Somente...

Ela se dirigiu para o banho. Ligeiramente, Senhor Oscar foi logo amassando o bolinho de chuva. Somente ele sabia da receita e não falava para ninguém, nem mesmo para a netinha, que no período de férias vinha da Capital e ali permanecia até o primeiro dia de aula.

Dona Joana foi rápida, porque o frio estava bem forte. Não quis ela ficar por muito tempo. Enxugou-se, trocou de roupa e vestiu-se do pijama presenteado pela filha. Sentaram-se os dois à mesa e comeram a sopa. Sobrou um pouquinho, que ela disse que daria para o “Marcelo”, o pequeno gatinho, mas seria somente no outro dia. Os pratos, os talheres, a panela e outros apetrechos foram deixados dentro da pia e seriam lavados no dia seguinte.

Oscar aumentou mais o fogo e, na outra panela, colocou-se mais banha de porco tirada da lata. Assim que esquentou a banha, ele mesmo foi colocando dentro da panela os montinhos de massa, que aos poucos iam fritando até chegarem ao ponto, bem corados. Dona Joana ralava o queijo bem curado e nele mistura algumas ervas, acrescentando açúcar refinado.

Assim que os bolinhos estavam prontos, no prato, ela espalhou o queijo, o açúcar e as ervas. Em curto espaço de tempo e distância, estavam eles sentados no sofá da sala.

O casal de cães latiu lá fora, pois alguém chegava no portão. Oscar foi ver quem era. Então, Senhor Manoel e Dona Maria, os antigos patrões, foram visitá-los, mas queriam saborear os bolinhos de chuva do Senhor Oscar. Ali sentaram-se e o rádio foi ligado.

Os quatro, cheio de orgulhos, ouviram da Dra. Marisa, a médica e professora da faculdade de medicina, a saudação. Antes dela iniciar a palestra, ela mencionou que seus pais estavam sentados à sala ouvindo o rádio, juntamente com os antigos patrões deles e eles estavam saboreando e comendo os bolinhos de chuva do Senhor Oscar.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 01/05/2024
Código do texto: T8054336
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