Devaneios matutinos

Erroneamente colocaram essa cortina mais baixa do que deveria ser e só têm espaço para minha cama ficar aqui, na parede da janela. A única vantagem é que consigo puxá-la pela manhã e despertar do sono, afastar o sono profundo aos poucos, há manhãs em que o céu está branco, puramente branco; dá para ver o céu pela janela pela manhã e não preciso me mover para admirá-lo um pouco todos os dias. Essa branquidade chegar a ser cinematográfica, com a visão ainda um pouco deturpada dá a sensação de ser uma luz, luz artificial, mas não é.

É apenas a claridade um dia cedinho, um dia nublado, a janela é de vidro, liso e transparente, dividida em duas partes contornada por ferros pretos; é comum. Mais comum ainda quando há uma rede de proteção cheia de losangos. Encaro o céu branco cada vez mais e começo a divagar, divagar cada vez mais ao imaginar os losangos transformando-se em pipas, adquirindo cor, saindo da monotonia, livres para ir onde quiserem. O tempo passa, e é como se eu estivesse adormecido novamente ao divagar acordada, ao perde-me logo cedinho do dia sem pressa para me encontrar.

Estas… pipas apesar de livres tem um caminho predestinado, elas são das cores do arco-íris em busca de mim, a perdida. Voam, voam numa longa viagem em busca de algo para longe, para o passado. Como se passassem horas, dias ou semanas. Eu não sei, mas lá de cima consigo ver que estão sobrevoando pequenas casas, isoladas, são uma pequena comunidade e não me é desconhecido, lá também está nublado mas de um jeito diferente, há dois caminhos: um para cima e um para baixo, a nomenclatura dada pelo povo da comunidade composta apenas por uma rua de pequenas casitas e não me é desconhecido. De um lado o sol e do outro as nuvens juntas, mescladas, no meio, quase entre dois céus, um arco íris quase sem forma. As pipas acham seu destino.

Metaforicamente falando, buscando palavras para expressar, as pipinhas começam a descer como se estivessem escorregando em uma mola sem fim, até que pararem e observarem uma pequena menina, sozinha, de um modo tão proveitoso e inocente aproveitar os dois céus tentando desvendar o mistério do arco-íris, de onde ele veio? para onde ele vai? Os sonhos são quase como arco-íris, tem forma abstrata e não sabemos por quanto tempo ele perdurará. Há algo mais simbólico para essa tarde, que vai além do céu, das pipas, do arco. Uma caneca de alumínio, um tubo de plástico e sabão. A menininha os segura como se estivesse segurando um momento muito precioso, pois não era todo dia que sobrava sabão para brincar de bolinhas de sabão, e ela soltava as bolinhas ao observar tamanho enigma por trás daquela mágica flutuante versando cores, chegava a perder as contas de quantas perdia de vista e chegava a pensar que essas bolinhas perdidas iriam para o céu, em busca de algo maior. Na ligeireza do tempo que não para, o céu se tornou e a chuvarada tomou forma, a menina não teve escolha, voltou para o aconchego de seu lar sem deixar os pensamentos do lado de fora os leva consigo, a sonhar sem pressa de parar. O devaneio matutino, dessa vez foi longe as pipas se deformaram agora presas umas às outras formando uma rede, somente a garoa me fez despertar do sonho acordada, já era hora de levantar e ir em busca de algo maior, do céu em que resolvi explorar, como uma bolinha de sabão perdida de vista; depois que fui embora do meu lugar de aconchego na esperança de tornar o arco-íris concreto.

Rayssa styles
Enviado por Rayssa styles em 21/04/2024
Reeditado em 03/06/2024
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