ATO RESOLUTO
– …Ato resoluto…
– …
– Uma ninhada de seis, Clarice. Três homens e três mulheres. Não precisavam necessariamente de dinheiro. Mas, como os valores viriam, estenderiam projetos. Paulo, por exemplo, ampliaria a concessionária de automóveis, e Maria dizia que retornaria à Europa bem mais estruturada que outrora. Portanto, estavam felizes. Felicidade, no entanto,“brecada”.
– Vige!
– Os pais da ninhada. Durante uma comemoração familiar, embriagados, disseram que venderiam as terras que possuíam e os 70% do montante dividiriam com os filhos. Os filhos, que não contavam com aquilo, ergueram taças. Para que serviam? Terras, desassistidas, apenas habitadas pelo senhor Anidas? O melhor seria vendê-las. Pablo mergulhou de cabeça na ideia. Veio a descobrir que havia um grupo empresarial que podia se interessar por elas. Aprofundando-se, ficou abismado com a não recusa do espantoso preço sugerido. Comunicou-se com os irmãos. Contente, visitou os pais e deu-lhes a boa notícia. Todavia, a empolgação absorvida pelos pais fora como se o mundo estivesse desabando sobre eles. Empalideceram. Disse o pai que recordava da asneira protagonizada na festa. Porém, não imaginava que fosse ser levada a sério. Desfeito, Pablo replicou que se tinham mudado de ideia, paciência. Mas ficassem cientes de que não possuíam um elefante branco como sempre julgaram. As terras tinham expressivo valor ao menos aos olhos da empresa interessada pela compra. Pretendia construir uma gigantesca área de lazer. A mãe pediu-lhe desculpa, a asneira deveria ter sido desfeita, mas se esqueceram de ratificar. O empolgado Pablo deixou a residência abatido. Não mais os importunou. Porém, passou a ser importunado pela empresa interessada. Dois a três meses depois, um dos diretores o convidou para mostrar-lhe no local o pretendido projeto. Por atenção, Pablo aceitou o convite. Percorrendo as terras, acompanhados pelo senhor Anidas, mostrando-lhes o diretor pontos essenciais do empreendimento. No outrora curral, disse o diretor que idealizavam construir ali uma piscina olímpica. Ao ouvir, o senhor Anidas embranqueceu a ponto de dizer que precisava que se sentasse. Dada-lhe atenção, queixou-se de fadiga devido à caminhada. Recuperado, prosseguiram com menor ritmo. Dias depois, os irmãos reuniram-se na residência da irmã Mara. Pablo disse que a pressão que vinha sofrendo por parte da empresa interessada pela compra das terras continuava imensa. Sobre a documentação do terreno, o que sabiam? Quais as lembranças que guardavam do senhor Anidas? Do folgado senhor Anidas, aliás? O que sabiam sobre o desaparecimento do casal de posseiros que habitava dentro dos limites das terras? Havia testemunho do senhor Anidas de ter visto o casal de posseiros se dirigindo para a represa. Seria verdade? Os irmãos meditando. Pablo falou sobre o mal estar sofrido pelo senhor Anidas na área do curral. Associaram a desconversa dos pais com tais pedaços. Dias depois, Pablo transmitia-lhes outra novidade: a extraída confissão do senhor Anidas. Não fora ele que dera cabo da vida do casal e sim um conhecido, o qual tão logo sucedera o ato, sentiu-se mal e faleceu. Fato ocorrido na residência do mesmo. A orientação que havia recebido fora de que os corpos fossem enterrados no curral. A área do curral era imensa, portanto não sabia precisar o local. O senhor Anidas, tão logo, contou aos patrões que fora questionado pelo senhor Pablo. Acercado, não teve como negar. Então os supostos proprietários das terras: os pais dos jovens irmãos. Replicaram que as venderiam. Possuíam documentação para realizarem a transação. Trinta por cento do montante que receberiam dividiriam com ele, com o senhor Anidas. No entanto, óbvio. Os esqueletos precisavam ser retirados do local. O senhor Anidas quis saber como faria, pois não podia contratar qualquer um para “garimpar”. Sugestão então recebida, repassou para Pablo que, por sua vez, repassou para os irmãos…
– Continue, estou curiosa para saber qual foi a sugestão.
– Pasme.
– Conte.
– Certa noite, dois automóveis, cujos ocupantes eram os seis irmãos, seguiam para a propriedade com objetivo de revolveram as terras do curral e darem sumiço de uma vez por todas nos restos mortais do casal de posseiro.
– Meu Deus!
– Como disse, prima: ato resoluto.