A CARTA
Pô! E não é que chegou uma carta? Ela veio não sei de onde, enviada por não sei quem, não conheço, mas abri assim mesmo, era meu o endereço no envelope, mas não era destinada a ninguém especial, então não violei correspondência, ou, se violei, ninguém vai reclamar.
Era uma carta que dizia coisa alguma, pelo menos eu não entendi nada, falava de amor e de ódio, de alegria e de tristeza. A letra era até bonita, a se comparar com a minha qualquer letra é bonita. Caneta azul, falhava um pouco, tinha um perfume, não reconheci, meu olfato não funciona muito, costumo espirrar com perfumes.
A carta deve ter ficado perdida por aí, tinha data de alguns meses atrás no carimbo, o carteiro, não o conheço, nem a colocou na caixa de coleta aqui do prédio, devia estar com pressa... ou má vontade, acredito que era pressa, coitado.
Apesar de nada entender dessa carta, escrevi uma resposta, disse que o amor e o ódio caminham juntos (clichê), que alegria e tristeza são passageiras (outro clichê) e que esperava que a pessoa ficasse bem. Enviei para não sei onde e sem saber para quem. Ela voltou depois de alguns dias, muitos dias aliás, abri o envelope, sem nome e só com meu endereço, e li com dificuldade, a letra era um horror, quase não entendi nada, só alguma coisa sobre amor e ódio e alegria e tristeza e uns clichês baratos. Fiquei chateado e fui dormir... sonhei, no meu sonho o amor e o ódio se amavam, a alegria e a tristeza era um sentimento só, acordei, pensei na minha vida e resolvi mudar tudo...