Desafinada (BVIW)

 

Ana, quando criança, e até à adolescência, ouvia músicas pelo rádio, mesmo assim escrevia as letras em um caderno. Após ouvi-las várias vezes, ficava, depois, cantando-as em seu quarto. Seu pai costumava brincar com ela e dizia: — Ô minha filha,você é tão desafinada, mas quero que aprenda a cantar, continue treinando. E comprou um violão para incentivá-la a estudar música.

Ao completar 15 anos Ana mudou de cidade e resolveu procurar um professor de violão. Ela decidiu que, mesmo sua voz não sendo afinada, ela podia tocar com colegas que soubessem cantar.

Ana começou a frequentar as aulas com muito entusiasmo, e o professor a cativava, mesmo percebendo sua dificuldade em entender os acordes musicais. Ana parecia ter poeira na ponta dos dedos, pois tinha dificuldade de acertar as posições dos acordes, ou seja, posicionar a ponta dos dedos nas respectivas casas e cordas, e só conseguia tocar alguma música se o professor anotasse os acordes na letra. Três meses se passaram e ela pouco desenvolveu sua aptidão musical. O professor, então, resolveu passar exercícios diários, para que ela praticasse mais tempo por semana. Ela tinha que ouvir determinadas músicas e pegar o tom. Aí foi o fim, pois que Ana não conseguiu acertar o tom inicial de nenhuma canção. Mesmo com as diferentes tentativas metodológicas, e o incentivo do jovem e paciente professor, Ana percebeu que realmente não tinha nenhuma habilidade musical. Desistiu. Entretanto, continuou amando música, mantendo seu violão,para emprestar a quem soubesse e quisesse tocar e cantar para ela.

Até hoje Ana alimenta o sonho de que algum de seus netos aprenda a tocar um instrumento musical, já que nenhum dos filhos também não desenvolveu habilidade musical, mesmo que todos, assim como ela, adorem ouvir música, dançar e cantarolar.

 

 

Iêda Chaves Freitas

10.04.2024

 

Tema da semana - Poeira na ponta dos dedos.