A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.
A velha mangueira da casa de praia tinha muita estória para contar. Afinal, viu e ouviu, seguidamente, juras e suspiros de amor sustentando em seu tronco corpos em movimento, enquanto fazia ouvido de mouco, ciosa de seus costumes tradicionais, aos gemidos sensuais do instinto dominando a razão. Entretanto, não conseguira esquecer a promessa de amor eterno que escutara em noite de plenilúnio, gravada em seu tronco com as iniciais dos promitentes. Sensibilizou-se com o ardor das palavras e a sinceridade tocante dos olhares. Mesmo diante dos horizontes incertos da juventude, confiou no desfecho feliz daquele compromisso. Orou a Deus para isso. Não se esqueceu do compromisso de voltarem juntos até ela para eternizar em seu tronco sua felicidade. Passou então, a vetusta árvore, a viver nessa espera. Os anos chegaram e se foram sem nada trazer para a paciente mangueira. Seus galhos secaram quebradiços e seu tronco enodoara-se sobremaneira, à exceção do local onde as iniciais estavam fixadas. Até que um dia, alguém já na idade madura, se aproximou e tocou com as mãos nas letras ainda vivas no tronco. Com um olhar dorido de profunda desilusão, sacou do nada uma lamina dura e afiada e destruiu todo aquele simbolismo que mantivera viva a paciente árvore. Sua carne, ferida no único local realmente saudável, sangrou seiva abundante, afogando toda uma esperança de vida. A misericórdia divina não lhe permitiu ver o ódio e a determinação no olhar do agressor, que dando de costas murmurou grotescamente: “Promessas vãs devem ser destruídas e esquecidas.”