MINHAS MÃOS

Apesar de tudo ainda conservo resquícios de lucidez, bem pouco decerto, reconheço, no entanto suficiente para compreender as nuances do que se passa em meu derredor. Mas não vislumbro qualquer sentido prático no silêncio ensurdecedor a acompanhar-me diuturnamente, é sufocante, deprimente, causa intermitente ansiedade.

Eu quisera sorrisos e estes bastante amplos e sinceros, do tipo essencial para instantes felizes. Ah, sim, pensei na felicidade tão desejada e logo em seguida latejou uma pontada de decepção ante tal pensamento. Dolorosa mágoa! Porque imagino, no pequeno universo de minha consciência quase de todo solapada, certamente ser impossível a existência dessa linda e mirabolante abstração fantasiada por nós humanos.

Talvez então não haja o ser feliz, pois isso implicaria em permanência, portanto vejo mera utopia, provável e unicamente é real, lógico, o estou momentaneamente feliz. Ou simplesmente, eu diria, algo como me encontro por demais alegre, eufórico até. Sentimento, estou conscio, que logo evapora na sequência do momento. Porque nada é constante, mesmo a Terra muda de posição a todos instante em relação ao sol.

Por outro lado, a lucidez que ainda me resta ajuda-me a tentar disfarçar o quanto nossas cogitações são pueris, infrutíferas e quiçá mesquinhas. Por querermos realidades inalcançáveis, realizações inatingíveis e impertinências sonhadoras. Fere minha alma reconhecer-me um sonhador cujos devaneios estão muito além do toque de minhas mãos ávidas.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 26/03/2024
Reeditado em 27/03/2024
Código do texto: T8028544
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