...NÃO É NINGUÉM, É O PADEIRO...🍞 🍃🍞

Ah!...O Senhor Dirceu?

Nunca vou me esquecer dele!.

As nossas manhãs, naquela casa da Rua 11 onde morávamos quando crianças, ficavam mais alegres pois todos os dias lá estava ele...

Chegava com o seu apito de borracha e com a sua bicicleta acoplada , sempre no mesmo horário ; isso se repetia todos os dias.

E que delícia ouvir o som do apito, isso me enchia de alegria; eu e a minha irmã mais velha corríamos até ele e o mesmo entregava para nós os pães matinais. Lembro que eram deliciosos e eram muitos pães pois a minha família era muito grande.

E que lembranças boas e agradáveis tenho do Senhor Dirceu...

Nas minhas memórias ficaram registradas a imagem de alguém que trazia alegria para as famílias, sempre com o seu sorriso bondoso e respeitoso; cumpridor das suas obrigações, com o seu dever diário de alimentar as famílias, trazia "o alimento sagrado", quer fizesse sol ou chuva, lá estava sempre ele...

E a sua bicicleta acoplada, quanta criatividade, e que imagem maravilhosa ver tantos pães espalhados naquela enorme cesta.

Em todos aqueles anos, não me lembro do Senhor Dirceu "ter falhado" um dia sequer, sempre com o seu fiel apito de borracha; assim não era preciso chamar, as famílias já se dirigiam até ele.

Mal sabia ele que com a sua lição de humildade, alegrava não só as nossas manhãs, mas as manhãs de todas as outras famílias!.

Podia até faltar alimento, mas o "pão nosso de cada dia " chegava a todas às mesas, e se multiplicava trazendo esperanças por dias melhores, pois naquela época a vida era muito difícil e eram esses momentos que alegravam o imaginario e o universo infantil daquelas crianças.

SR DIRCEU, você cumpriu muito bem a sua missão, esteja bem em qualquer plano e aonde você estiver!.

Com certeza, há de haver algum lugar onde você está a ofertar os seus pães com o seu apito, agora a despertar as estrelas...

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Esta minha história familiar me remete ao texto do escritor RUBEM BRAGA, "O PADEIRO".

Naquela época, era comum os jornais e os pães serem entregues pessoalmente.

E ele também indaga ao padeiro por que ele sempre dizia ao apertar a campainha das casas que "ele não era ninguém".

E ele lhe disse: " Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer , e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Mal sabia o padeiro que a sua profissão tinha semelhanças com a do jornaleiro, pois ele editava o jornal durante a noite e distribuía ao amanhecer, assim como o padeiro fabricava os pães à noite e também distribuia ao amanhecer!

RUBEM BRAGA foi escritor, jornalista, editor, ficou muito conhecido por lançar as suas crônicas, assuntos do cotidiano. As memórias da infância são as principais temáticas das suas obras.

RUBEM BRAGA faz parte do modernismo brasileiro, uma vez que é autor de crônicas.

Sofreu influência da primeira geração modernista, em especial do escritor MANUEL BANDEIRA, mas as bases de sua escrita se fixaram na segunda geração do modernismo brasileiro.

Além de trazer fatos do cotidiano , traz nas suas crônicas reflexões sobre a universalidade dos temas, trazendo objetividade e clareza, predomínio no tempo presente, crítica sócio política, escrita opinativa com ironia e lirismo.

O seu primeiro livro de crônicas foi " O CONDE E O PASSARINHO" , escrito em 1936 e a sua principal obra foi o livro "AI DE TI COPACABANA" , escrito em 1962.

Algumas outras obras do autor:

- 50 crônicas escolhidas (1951)

- Um cartão de Paris (1997)

- A traição das elegantes (1967)

- O menino e o Tuim (1986).

- As boas coisas da vida (1988)

- O verão e as mulheres (1990).

- Casa dos Braga - Memórias da Infância

(1997).

Leiam a crônica de Rubem Braga.

"O PADEIRO".

https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/14117/o-padeiro

Lélia Angélica
Enviado por Lélia Angélica em 11/03/2024
Reeditado em 12/03/2024
Código do texto: T8017248
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