GENERALIDADES
GENERALIDADES
(Rosalvo Abreu)
Bom dia! Todas, todos e todes! Para os não binários e intersexo. Eu na qualidade de homem hetero cis e demisexual, saúdo todos do grupo. Tá difícil saber como se denominar. Nesse início do século vinte e um, quebramos paradigmas e isso gerou uma confusão na minha cabeça. Em plena terça-feira à noite estava no divã me perguntando “quem sou eu?” Não que eu não soubesse quem de fato eu era, mas o problema estava em não saber me categorizar. Não mudou nada, entretanto precisava me reclassificar. Agora sei, sou homem hétero cis e demissexual.
Não mudou nada, continuo gostando do sexo oposto, silhueta de violão, cervejinha no boteco , conversa fiada e BaVi aos domingos. É a revolução dos gêneros, sei que muita coisa ainda precisa ser compreendida. Por exemplo, lá onde nasci, no século passado, na década de sessenta, tinha uma senhora viúva, que morava sozinha já fazia uns quinze anos. Nunca se viu ela de conversa leve com outro homem. Era da roça pra casa e da casa pra roça. Aos domingos ia na feira comprar seus mantimentos. Vez por outra alguém mais solto e ousado perguntava: “Dona Sartunina, não tem saudade de uma costelinha à noite?”. Ela de pronto respondia a mesma cantiga, “Ainda sou casada, e toda sexta Zé vem me visitar. Ele continua lindo, braços fortes e noite adentro continuamos a nos amar”. Aquela relação real e carnal entre a viúva e o espírito do seu falecido, precisaria se reclassificar.
Mais acima, há umas duas léguas de onde morávamos, sobre um morro, morava seu Agripino. Homem alto, moreno vistoso, afeiçoado aos búzios, cartas, banhos e chás. Solteirão. Casa muito frequentada pelos enfermos de corpo e de alma. Terreiro dos quebrantos. A fama dele já se ouvia de longe. Em noites de lua cheia ele era abduzido e fazia sexo com ET.
Ainda temos muita coisa para entender e classificar, os bispos de olhos vermelhos, pastores loucos por dinheiro e até um formigueiro que nasceu no meu quintal. Nossa! Já ia esquecendo de seu Carlito, que era contumaz. Final da tarde, início da noite, tudo na penumbra, ele sempre descia com sua jeguinha para beber água e banhar na beira do rio… ele lavava a égua, e isso se repetia de três a quatro vezes por semana, todos sabiam daquele amor animal.