A EXPLOSÃO

Podia ter sido diferente, mas não foi, aconteceu assim como vou relatar aqui, sem tirar e nem colocar nada, relato nu e cru dos fatos.

Era uma noite bem bonita, o céu estava cheio de estrelas, a lua, não sei bem qual era, mas parecia minguante ou crescente, sempre me enrolo com as fases dela, só conheço a cheia, mas essa não era, com certeza, estava timidamente dando o ar da graça. Tinha cheiro de pipoca no ar, não daquela de micro-ondas, mas das feitas na panela, muito mais gostosas, havia o burburinho de gente conversando, uns grilos cricrilavam pela grama e a praça estava cheia.

Foi quando uma luz bem forte rompeu no céu, de uma vez só, alguns segundos, todos que ali estavam se assustaram, um asteroide? Um disco voador? Uma explosão cósmica? As pessoas se perguntavam o que havia acontecido, algumas, mais tensas e com medo, foram embora para casa, apesar do calor insuportável que fazia naquela noite.

Quem foi para casa, ao tentar acender a luz, percebeu que não tinha energia, outro burburinho se formou, dessa vez de espanto, todo mundo de volta para a rua, também na escuridão, as mulheres e homens desesperados por conta dos alimentos guardados na geladeira, eles se perderiam com a alta temperatura, jogariam dinheiro fora, o salário do mês já estava acabando.

Depois de algumas horas, madrugada, então tudo se esclareceu, chegou o caminhão da concessionária de energia para consertar o transformador da rua de baixo, ele havia estourado e causado todo o alvoroço, na praça. Quase todo o bairro ficou sem energia por mais quatro horas, ninguém dormiu naquela noite por causa do calor e dos pernilongos, e nem ficou doente, pelo menos isso. De manhã foram trabalhar se arrastando.

Pensaram que ia acontecer uma tragédia ou uma piada? Aconteceu, sim, a tragédia: todo mundo perdeu o que estava na geladeira. A piada: pô, vocês ainda querem rir? Não teve!