Dura verdade!
Outro tempo. Saudade, mais uns anos nem isso será.
Era a primavera do ano. A primavera da vida há muito que tinha passado e jamais voltaria.
Sentado, ardiam lentamente os últimos ramos secos, aquela lareira era para ele lugar sagrado que todos respeitavam, que ainda restavam daquela família que pouco a pouco se ia desfazendo.
No seu rosto, rugas,sulcos que a charrua do tempo foi cavando naquela face dorida. Nos olhos aquela tristeza que fica, sempre fica do tempo que passou,deixou marca deixou saudade.
Dos filhos raramente tinha noticias. A vida era dura naqueles campos ermos. Cada qual há sua maneira tinha procurado meios de melhor vida noutras terras, noutros lugares distantes. Vinham de vez enquanto,mas tornavam-se mais raras as vindas, os anos corriam sem parar.
Os netos nada os prendia a esta terra.Muitos nem a língua materna falavam. Chegavam,um dia depois partiam.Aquele lugar aquela abandono nada lhe diziam.
O pobre homem só dizia para os amigos,tão velhos como ele. Porquê? Do lugarejo para a cidade,a grande cidade da ilusão, sempre,sempre o mesmo destino. Ficar só! Daquele tempo de trabalho duro para que o negro pão sempre estivesse naquela desconjuntada mesa,todos naquele triste lugarejo,cada qual em sua casa tinha o mesmo pensamento.Quando se encontravam a conversa deles era sempre a mesma.
Naquele lugarejo, a que muitos da grande cidade teimavam em chamar aldeia, lugar onde se vivia(apenas se existia) aqueles seres eram escravos do próprio destino. As conversas entre eles sempre as mesmas, as respostas ninguém as encontrava. Abandono. Puro e simples.
Mas abandono que doía quando pouco a pouco era mais um que não aparecia naqueles dias de primavera. Algum daqueles companheiros de infortúnio, tinha partido rumo ao desconhecido, mas que nunca mais voltava, como outros tantos que partindo e estando vivos, nunca mais voltaram.
Os campos abandonados, casas tornadas míseras cabanas, onde outrora se viveu, se amou se construíram e desfizeram famílias, desses lugares, resta apenas um lugar sagrado, cheio de cruzes, velhas,algumas palavras, nomes datas que já ninguém lê.
Eterna saudade,que com o passar do tempo já nem isso será.