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Acidente na Ba-130.
Carro capotado. Cinco tripulantes. Todos mortos. Carbonizados.
Abro um mapa. Localizo a tal ba-130. Distante, muito distante.
Cidade mais próxima, Várzea Nova.
Nem sei onde fica. É região norte? Sul? Procuro saber.
Pesquiso, leio. Letra por letra até achar.
Centro-norte.
Longe. Muito longe. Nada pra sentir.
Próximo.
Acidente com motocicleta. Vítima fatal. Jovem. Dezesseis.
Foto em mosaico.
O efeito não encobre o vermelho-sangue que rodeia a cabeça.
Onde foi?
Br-116. Abro o mapa.
Região de Caldas do Jorro. Já estive lá. Longe.
Duas horas e meia de viagem, eu acho.
Bom lugar pra passeio. Preciso voltar lá qualquer dia desses.
Corro o cursor pela tela, arrasto.
As notícias deslizam em cascata.
Homem morto, principal suspeito é o cunhado. Lhe devia dinheiro, dizem.
Mulher morta pelo ex-namorado na casa dele.
Mulher morta pelo ex-marido enquanto trabalha.
Mulher morta pelo ex-amante. Homem detido em flagrante.
Mulher morta, mulher morta, mulher...
Onde? Onde? Onde? Espírito Santo, Pará, São Paulo, Sul.
Tudo tão longe, tão insensível, palavras e mais palavras não são suficientes.
É tudo técnico.
É tudo puramente noticiável, é o dito pelo dito mas, e o sentido? Onde fica?
Paro a rolagem:
Notícia. Criança morre afogada em açude no interior da Bahia.
Sinto um aperto no peito. Leio.