Sarampo (ou catapora?), Beatles e JFK
Pequena cidade do interior. Primeiros anos da década de sessenta.
“Peguei” catapora ou sarampo, um deles.
Por recomendação médica ou crença, não podia lavar a cabeça por vários dias. Mas, continuar brincando era permitido porque seria bom que contaminasse as outras crianças. Imunização por toda a vida. E, também, só poderia lavar a cabeça após cortar o cabelo.
Uma vez liberado, lá fui eu, com meu pai, ao habitual barbeiro da cidade. O Sr. Mauro colocou uma tábua nos braços da cadeira e me sentei nela.
Minha cabeça estava pura terra, pois uma de nossas brincadeiras era nos montes de areia de construções, que abundavam por ali. A cidade estava repleta de novas construções. O Sr. Mauro não reclamou. Creio que estava acostumado.
Cortei o cabelo ali por vários anos. Era usual para as crianças o corte de nome bodinho. Laterais com máquina zero e na parte superior grau três ou quatro.
Certa vez, saindo de lá, dobrando a esquina, seguindo na rua da minha casa que ficava a dois quarteirões adiante, ouvi pelo alto-falante da Rádio da cidade, que ficava no alto de um mastro colocado no terreno baldio da esquina, uma música vibrante, diferente, muito agradável. Corri para casa, liguei o rádio e, extasiado, me tornei, de imediato, um beatlemaníaco.
Por um bom tempo, o Sr. Mauro passou a reclamar sobre a nova moda do cabelo comprido para homem. Iria a falência.
Não só a moda do cabelo comprido “pegou”. Uma revolução, em velocidade vertiginosa, se instalou na música, nas artes, nos costumes.
O Sr. Mauro não foi a falência. Pelo contrário, adaptou-se muito bem à nova onda.
O tal alto-falante do mastro transmitia as diversas programações da Rádio, das oito da manhã até 18:15h. As 18h iniciava a “Hora da Ave-Maria”.
Em outra ocasião, voltando do armazém de secos e molhados, que vendia praticamente tudo a granel, embalados em sacos de papel (sacos plásticos não existiam naquela época) ouvi no alto-falante, cerca de quatro da tarde, que o Presidente John Kennedy tinha sido baleado em Dallas. Ele havia lançado o programa Aliança para o Progresso para a América do Sul, buscando não perder a hegemonia dos Estados Unidos na região. Era um dos meus ídolos na época. Fiquei desolado, fui para casa, peguei uma foto dele na revista “O Cruzeiro“e copiei seu rosto a lápis preto.