Chuva
Adoro as tempestades de verão que ocorrem quando a pressão atmosférica baixa leva lá pra cima aquela maldita massa de ar quente e sufocante que faz o suor brotar da pele embaçando as lentes dos óculos.
NOTA: Nesses casos é melhor um calçado com sola de borracha.
Era depois do almoço, parei na biblioteca para renovar a carteirinha e aproveitei para tomar um café. Satisfeito, entrei no hall climatizado ornado por estantes e escolhi um romance de Luís Fernando Veríssimo para folhear e aproveitar o silêncio enquanto esperava a tarde passar. A poltrona era tão confortável que adormeci e só acordei com o livro escorregando das minhas mãos e batendo no assoalho. Um ou outro leitor que ali estavam me encararam subindo as sobrancelhas. Fingi que não vi.
Coloquei o volume sobre uma mesa próxima à funcionária que tomava conta do setor (estudei biblioteconomia, não peguei o canudo, mas sei que não é de bom gosto tentar voltar o livro pra prateleira) e saí.
Na rua eram dois sois pra cada transeunte. Caminho até o apartamento, alimento o gato e tomo banho. Escuto o jornal pelo rádio até o locutor anunciar que são seis da tarde. É dia de ir ao mercado fazer compras. Calço um par de sapatos de camurça azul e caminho pela avenida achando graça de ir mais rápido que os carros engarrafados na hora do rush.
A infalível lei de Murphy trás o temporal quando estou com as sacolas nas mãos voltando pra casa. Ensopado, giro a chave na porta e minha mulher ri fazendo piada dizendo que vou ter que arrumar outros calçados para o baile de amanhã.