Casulo à francesa
Chega às 6 da manhã no aeroporto "Charles de Gaulle", vindo da África, um ano fora do Brasil. O voo para o Rio era às 10 da noite, já tinha planos: ia cochilar no casulo do aeroporto, que nem uma vez em Tóquio.
Depois, iria de metrô ao centro, daria uma caminhada pela rua Ponthieu, passaria em frente ao número "8", para matar saudades... Ela bem que podia ter ficado lá a sua espera, imóvel, com o mesmo sorriso de quando se despediram alguns anos atrás. Como não estaria, ia passear pela Champs Elysées, depois, de metrô, retornar ao aeroporto e aguardar o horário da volta.
Após o soninho no casulo do aeroporto, passa no guichê da Air France pra fazer check-in antecipado e, então, a surpresa:
- Monsieur, seu voo acabou de sair.
- Pas posible.
- C'est vrai
- Vrai, coisa nenhuma.Era à noite!
Tirou o comprovante da reserva feita em Nairobi pra bater o martelo, esmagar qualquer reação ... e..., é ... Não é que ela tinha razão: o voo já era. Et maintenant?
- Et maintenant? Et maintenant?
- Agora, o senhor vai ter de esperar o próximo voo, o de 11 da noite. Desce em Guarulhos. Posso colocá-lo nesse voo se ainda tiver lugar?
A contragosto, aceitou. Ia passar um dia em Paris. Agora, era tentar "make the best of a bad business". E se não tiver no lugar nesse voo? Mas tinha, ainda bem. Os planos não iam mudar. Iria continuar obrigatoriamente em Paris, embora não fosse preciso, bastava ter verificado a reserva de novo. Vai confiar na memória...
Agora, tinha que virar a chave, mau humor não resolveria. O certo é que teria muito tempo para fazer o passeio programado. Só não podia pensar - e pensou - em voltar à "Boite Azul de Paris", título do conto que está no livro "Sina Cigana". Caso tenha ficado curioso, eis o link aqui no Recanto das Letras: