O Ninho Inacabado
09.02.24
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O casal ia e vinha, com barro e grama no bico, para o poste de luz em que construíam seu ninho. Acompanhava-os todos os dias pela manhã, os Joões-de-barro. São muitos aqui. Na mesma trave de iluminação, havia ao lado mais duas de outros Joões, intactas e aparentemente vazias. Eles queriam construir a sua.
Colocava comida para os pássaros, no topo do muro de divisa com a rua, todos os dias cedo. Vinham em bandos de Canários da terra, com seu peito amarelo, pássaros pretos e rolinhas. Também, alguns Bem-te-vis, com seu grito caraterístico, Sabiás do mar e Gralhas azuis, belíssimas. Observava-os devorarem insaciáveis, deixando sequer migalha. Incrível sua voracidade!
Alguns eram frequentes, já os conhecia, e eles a mim, a ponto de empoleirados na grade de madeira acima do muro, à espera que lhes servisse o café da manhã. O casal de Joões-de-barro era novo, mas no dia a dia, acostumou com a ração e aguardavam também com gritos longos e estridentes.
A casa, ou ninho, começava a se delinear sobre a trave, avistando-se somente o contorno da base. Trabalhavam frenéticos e coordenadamente, um indo buscar mais barro, o outro depositando o seu, ajustando com o bico na parede, que dia a dia, pouco crescia. Demoraria tempo para concluí-la. Eu aguardava, era um passatempo vê-los trabalhar.
Passaram-se semanas. Então, notei que não mais se alimentavam no muro, não os via na grade gritando por comida, e o ninho parecia paralisado. O que acontecera?
Aguardei por alguns dias, olhando para o poste com a construção interrompida, na esperança que retomariam sua obra. Não apareceram mais. Entristeci-me!
O que poderia ter ocorrido com o casal? Gostava vê-los, com sua determinação e companheirismo, na construção do lar para cuidar dos filhotes. E, faziam-me companhia.