Histórias de escola
Estava à toa tentando não fazer nem pensar em nada quando me surpreendi relembrando pequenas travessuras e ri sozinha diante da lembrança já tão longe e ainda assim, vívida como uma senhora velha disfarçada de mocinha.
Vou contá-la se achar engraçado bacana, se não achar bacana também, tanto faz. Mas, imaginar a cena não custa nada e vale a pena. Dou minha garantia, que é claro, não vale de nada! Ou vale tanto quanto a palavra de um mentiroso que pensa ser profissional.
Morava em Torres, litoral gaúcho, praia linda de viver. Fui feliz demais da conta lá. Cultivo amizades antigas que ainda permanecem nos mesmos lugares como rochas que se recusam a serem removidas.
Pois bem. Nunca me considerei bonita, sexy ou atraente aos olhos masculinos, mas como dizia uma professora minha "para cada pé rachado há um chinelo velho!". Vivia razoavelmente feliz, na época. Era magra as roupas caíam bem. Tinha cabelos longos e vermelhos como labaredas. Ia muito bem em minha caminhada cotidiana quando um rapaz mais desprovido de beleza do que eu pegou a manha de brincar comigo me oferecendo carona em sua carroça. Eu, moça educada, agradecia e seguia a pé. No dia seguinte de novo o boa tarde risonho e a oferta da carona. Agradecia e ia a pé. Até que certo dia, cansada da troça, não da caminhada aceitei a carona. O rapaz feio e surpreso me ajudou a subir. Subi como pensei que subiria uma princesa na carruagem dourada e perfeita. E lá fomos nós. Atravessamos a cidade e eu sorria e resfolegava de alegria e vergonha. Devia estar vermelha, pois suava muito. Os conhecidos me abanavam, gritavam e riam. Chegando na frente da escola meu príncipe me desceu num gesto cavalheiresco e voltou para seu palácio. E ao entrar para a aula muitos perguntaram:
_Sora! Era a sora vindo de carroça?
Eu respondi que sim e a gargalhada foi geral.