Discrição - BVIW
Sentada à janela, Clarissa observava a rua e o movimento. Presa a uma cadeira de rodas, dependente de outros, pouco saía de casa. Seu mundo se limitava àquela janela e suas frestas.
Observadora, conhecia os hábitos e as manias de toda a vizinhança. Não que fosse enxerida ou fofoqueira, mas aquela era a vida que se lhe apresentava. Os vizinhos a conheciam e, por vezes, paravam para um dedo de prosa com a mocinha triste e simpática. Acontecia até de ouvir confidências.
Aquele domingo era um dia de tempo estranho, opressor. Céu escuro, ameaçador. O vento assobiava e as folhas, coitadas, rodopiavam pelo chão. Rua quase deserta, os moradores refugiados em suas casas. Clarissa espiava a rua apenas por uma fresta da janela, o vento forte não permitia abertura total.
Foi então que viu o que não queria ter visto. Mas, discreta que era, calou-se...
Lu Narbot
Tema: Àquela fresta da janela (Conto)