A companhia da dona Ignácia
A mesa quadrada de madeira em falso, balançava de um lado ao outro.
As duas cadeiras já gastas se contorciam com o peso cada vez mais difícil de suportar devido ao inchaço de suas pernas. Foram atingidas pelas águas que entravam na casa nos períodos de chuva, e que deixavam a cozinha um local perigoso para todos os móveis.
"Mas elas ainda servem", justificava dona Ignácia.
Dia desses, ao ajeitar uma toalha de mesa surrada e com pequenos rasgos sobre ela, cortou um bolo que fizera durante o amanhecer em pequenos quadrados, preparou o café e colocou dois copos americano, tirou o pote de manteiga da geladeira e o pôs ao lado dos pães.
Então, sentou-se com cuidado em uma das cadeiras e agradeceu ao bom Deus por tudo o que possuía. E chorou...
As lágrimas caíam enquanto sorria, e com um semblante agradecido, colocou para si um pouco do café, e no outro copo também. Pegou dois pedaços de bolo e os colocou para si, e mais dois ao lado do outro copo, cortou os pães, um para ela e o outro colocou aí lado do outro copo e disse:
"Senhor, obrigado por fazer-me companhia durante todo este tempo".
Então, após tomar seu café da manhã, esfarelou os bolos e o pão e os deu aos pássaros que visitavam seu quintal, e o café lançou no vaso de sua planta viva e cada vez mais forte.
Dona Ignácia, então, foi se preparar para ir ao trabalho, feliz e agradecida por mais um dia que começara.