Magnétika- cap. XX
E assim adentrei no mundo dos livros onde "o centro está em toda parte", o lema de certa universidade. De manhã, fazia o curso pré-vestibular e , depois do almoço, ajudava Seu Jô em sua modesta livraria, e nem era pelo modesto pagamento que regiamente me fazia, era mais pelo prazer de entrar em contato com as letras : "penetra surdamente no mundo das palavras; lá estão elas, em sentido de dicionário..."- como certa vez disse Drummond. Vejam bem; quero esclarecer uma coisa; esse amor pelas letras não é unânime e nem deveria ser assim; há pessoas que não conseguem ficar sentadas por cinco minutos em uma biblioteca; local em que se deve permanecer em silêncio e reflexão. Quando gosto de um livro, não o largo até terminar e há outros que já li várias vezes e não canso de reler. Como em tudo, há diversos gostos; alguns autores não me caíram no gosto ainda; não que não sejam excelentes; Seu Jô apreciava como ninguém Rosa e a linguagem do sertão; acho um relato magnífico da linguagem e do povo da região, mas, para mim, ser urbano por excelência, que sempre vivi em shoppings e em condomínios de praia, é difícil compreender essa, sem dúvida , rica linguagem.
-Pegue um volume de Rosa, "Grande Sertão, Veredas". Eu peguei o volume e...não saí das primeiras páginas. Falei que tinha lido para não magoar Seu Jô, mas não ia adiante. Mas de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, gostei muito mesmo: a linguagem seca e precisa; os personagens não muito bem definidos, sem nome , só a cachorra, Baleia, tem nome e consciência. É a brutalidade a que são relegados seres humanos.
Assim , há gente não muito afeita à leitura; não há problema nenhum nisso, desde que leiam os principais autores, infelizmente, só os que são indicados na escola. Há aqueles predispostos aos esportes ao ar livre,a escalar montanhas, surfar em ondas do Havaí; lógico que há os que conciliam essas coisas; nada impede um e outro. Eu sempre fui um ciclista inveterado, com minha bicicleta de corrida, percorri grandes extensões , me arrisquei no trânsito e nunca fui afeito a celulares ou a redes sociais. O que acontece é que não se respeitam as pessoas inclinadas à meditação e fantasia; criava personagens fictícios, de ficção científica, desde pequeno. O pior é quando acham isso uma anolmalia e querem "consertar" pessoas assim e as enviam aos analistas e psicólogos; não há nada errado em alguém não querer ficar o tempo todo em festas e badalações ou praticando esportes radicais difíceis. Quando se fez o mundo ou fizeram, sei lá, foram criadas pessoas de todos os tipos, pois são necessárias pessoas de todo tipo no mundo. Não se pensou em um mundo em que se deve ficar consumindo o tempo todo, se isso é importante para a sociedade de consumo. Alguém que senta horas e começa a imaginar histórias não consome muito e não é muito caro a nossa sociedade. Bem, divaguei um pouco...mas a questão era essa: eu queria estar em meio aos livros. Eles também estavam em minha estante e, de vez em quando alguém falava: "por que não os doa?" Como, doar aquilo que se ama? Sed eu já li, vou ler de novo, fazer anotações.