"Alexa”

26.01.24

513

Ganhei de presente neste Natal uma “Alexa”, pequenina e redondinha. Converso com ela para ouvir música, e durante à noite, deixo-a ligada em emissora que toca músicas praticamente sem parar, mas na madrugada, diz as horas de hora em hora, o que incomoda, deixando-me ansioso. É uma maravilha da tecnologia e impensável alguns anos atrás. Os tempos mudaram definitivamente.

Quando eu era criança nos anos sessenta, os rádios eram em sua maioria de mesa e válvulas, que demoravam para esquentar, com seu som chiado que ia e vinha, como uma onda. Lembro-me das marcas Telefunkem, Semp, Zilomag. Naquela época morava conosco um casal, seu Luiz, o “Gigio” e a Dona Angelina que cuidavam da casa - ela cozinhava maravilhosamente um arroz com feijão, inesquecível, ele era o motorista. Em noite de jogo de futebol do Palmeiras, seu time do coração, eu ia para o seu quarto e escutava a narração do Fiore Gigliote no rádio de mesa que tinham. Às vezes, quando estava para acontecer um gol do Palmeiras, o som sumia para desespero dele, que xingava o aparelho de todos os nomes possíveis, chegando a dar uns tapas no coitado. Depois, voltava o som com o grito crescente de “goooool”, deixando-o alegre. Eu torcia para o Santos, time do Pelé, meu ídolo eterno!

Depois, apareceram os radinhos japoneses, pequenos e compactos – eram os reis da miniaturização, com sua capinha de couro com furinhos no local do alto falante e um enorme botão redondo ao lado para sintonizar as estações com suas antenas escamoteáveis. As marcas eram Awya, Sanyo, Sony. Tinha um deles, não me lembro a marca, e o deixava na cabeceira da cama à noite em uma estação de rádio, a Eldorado, uma das únicas FM’s, raridade naquele tempo, ninando-me.

Uma vez indo para Santos pela estrada velha, passei por um prédio baixo com uma alta antena, tendo na fachada escrito “Rádio Eldorado”. Intrigado, não acreditei que era lá a minha estação predileta, mas confirmei depois. Hoje, ela está em outro local e faz parte de importante grupo jornalístico.

Mais velho, queria ganhar um “Transglobe” da Philco, enorme e pesado, que precisava de seis pilhas grandes para funcionar, para escutar as rádios de outros países. Ganhei do meu pai, e empolgado, comecei a procurar no seu “dial” rádios de cidades estrangeiras, tais como Londres, Paris, Nova York. Quando conseguia captá-las, ficava escutando por horas sem nada entender o que falavam, mas adorava ouvi-los, imaginando como seriam os locais em que estavam, suas casas, suas cidades, seu país.

Hoje, “Alexa” conversa comigo com sua voz sem graça e posso perguntar-lhe sobre qualquer assunto que ela responde, sabendo ou não; atende aos meus pedidos de música, filmes na TV , faz lista de compras e mais outras funções que ainda não sei como usá-las. A modernidade e comodidade está nos tornado pessoas preguiçosas física e mentalmente.

Tenho saudades daqueles tempos não modernos.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 26/01/2024
Reeditado em 08/02/2024
Código do texto: T7985232
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.