SONHAVA EM SER HEXACAMPEÃO
SONHAVA EM SER HEXACAMPEÃO
Euricon Missanga está na expectativa de ser um hexacampeão. Quer sentir-se vencedor. Nada menos. Vestiu a camisa amarela de torcedor do Brasil. Comprou uma para o filho. Quis vestir à força toda a família de verde-amarelíssimo.
A mulher cismou que não vai vestir fantasia. Não simpatiza com o fanatismo das torcidas em torno de uma facciosa competição chauvinista. Segundo ela, futebol é retrocesso, ilusionismo de multidão. Ajuizou que um time ganhar uma competição, não vai melhorar suas condições pessoais domésticas de sobrevivência, nem as do país.
As condições políticas e sociais do torcedor do time ganhador continuarão as mesmas. O marido carimba de radical a mulher. Afinal, argumenta, ser brasileiro é participar dessa paixão, que todo mundo participa em seus países de origem. Não é só no Brasil que o torcedor veste a camisa de seu time.
Helena não se dá por vencida e contra argumenta que futebol é cultura do fanatismo globalizado pelas mídias. Incentivar a disputa e a rivalidade entre pessoas e países, a finalidade: derrotar o adversário na guerra fria do jogo de futebol. Os países precisam de cultura que incentive a paz, a razão, a sensibilidade.
Dona Helena é formada em Economia, gosta de leitura. Ao contrário do marido que tem o segundo grau incompleto, não lê nem jornal. Exceto o caderno de esportes. George Orwell, autor de "1984", dizia que o futebol é uma das formas de continuar fazendo a guerra entre pessoas em um mesmo país e entre outros países.
O futebol polariza as torcidas inimigas não apenas na aparência. Dramatiza uma representação real dos instintos mais primitivos e violentos, que estão à beira de uma manifestação de hostilidade feroz, truculenta. Mutuamente hostil. Quando um time marca um gol, continua ela, provoca a torcida adversária com constrangimentos físico e mental. Mostra a tendência coletiva inconsciente dirigida aos que torcem pelo time rival: um antagonismo que extrapola as normas de educação e da convivência civilizada.
O marido a acusa de não ser original. Socióloga fazendo uma tese de mestrado. Helena pergunta como pode um esporte, o futebol, sugerir alguma argumentação que não seja banal, fútil, tatibitati. Jogadores são representações dramatizadas da atualidade troglodita.
Lutam para derrotar, humilhar, e fazer prevalecer a força bruta. O marido replica, é cidadão do século XXI. Não existe essa coisa de futebol representar guerra. Interpretação insensível de um divertimento praticado na maioria dos países. Então, futrica dona Helena, por que centenas de pessoas foram mortas em ocasiões de disputas de campeonatos, dentro e fora de seus estádios e países?
Por que torcedores matam outros a pauladas, pedradas, pontapés, tiros de revólver, estocadas? Futebol, alega a mulher, é uma representação da violência pré-histórica. As tribos, os times, rivalizam-se pelo prestígio fugaz do gol. Do gol que infantiliza os jogadores que se abraçam e confraternizam, assim como torcedores que berram e comemoram.
Uma vitória traz valorização financeira de jogadores, e do comércio de gente que chuta bola. A corrupção nas transações se faz presente todos os dias. Recentemente descobriram na Internet um grupo que comprava juízes para se beneficiar dos resultados dos jogos. O casal não chegou a um acordo civilizado. Euricon de si para consigo brada: “guerra é guerra! “guerra é guerra! Não há como pacificar a natureza”.