Grandessíssimo Filho da Mãe

– Mas que belo filho da puta você é, hein Carlos? Pô, logo a Ritinha! A Ritinha...

– Aconteceu.

– Aconteceu uma porra! Você sabe o que acontece, Carlos? Sabe? Tropeçar acontece, cortar um dedo acontece, sentir medo acontece. Agora, essa sacanagem que você fez comigo não acontece assim, no acaso, você fez acontecer!

– Eu sei.

– Não, você não sabe. Agora você vai ligar pra ela e contar toda a verdade.

– Não posso!

– Não pode por que?

– Ela vai me achar um filho da puta.

– Sim, e você é um grandíssimo filho da puta mesmo, qual o problema?

– Eu sei, mas eu não quero que ela saiba que eu sou.

– Carlos, você é um bosta! Isso que você é, um verdadeiro bosta!

– Também acho que eu sou.

– Ah Carlos, vai se fazer de vítima agora? Enfia essa tua hipocrisia no teu rabo bipolar.

...

– Carlos, volta aqui! Volta aqui que eu estou mandando! Onde você pensa que vai, Carlos?

– Vou pra puta que pariu!

– Eu quero mesmo que você vá pra lá, mas depois. Volta aqui agora que eu não terminei de cagar em você.

...

– Carlos, negócio é o seguinte. Já decidi tudo, você vai terminar com a puta da Ritinha – coitada, na verdade, ela nem é puta, foi enganada também – vai frequentar a igreja todos os domingos, todos, sem pular nenhum. Vai trocar o número do seu celular, vai parar com o cigarro, vai parar com o álcool, e vai ...

– Morrer né? Uma vida chata do caralho dessa, só me falta morrer.

– Carlos, Carlos, não desperdice essa oportunidade que eu estou te dando, você pode se dar muito mal!

– Me dar mal?

– Você não percebe que tudo isso que você está fazendo, me enganando e enganando a Ritinha, pode acabar com a vida que você leva hoje? Que você pode me perder, perder seu emprego?

– Nossa, você tem razão! Eu não quero perder o nosso casamento fracassado, não quero perder esse emprego que eu detesto, Deus me livre deixar escapar essa vida mediana que a gente leva! Meu amor, me perdoe, errei e errei, mas por favor, me perdoe.

– Tudo bem, Carlos! Mas você vai fazer o que eu te pedi?

– Claro, que vou. Mal vejo a hora de me privar ainda mais de uma vida feliz. Olha, Marta, se não fossem pelos nossos filhos, eu pediria um copo de veneno pra brindar essa oportunidade ímpar que a vida está me dando.

Pedro De La Rosa
Enviado por Pedro De La Rosa em 22/01/2024
Código do texto: T7982264
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